Para atingir as metas ambientais estabelecidas pela União Europeia é necessário tomar medidas concretas e seguir um processo específico. O objetivo comunitário europeu é que 20% do consumo energético até 2020 venha de fontes renováveis. Até 2030, a União Europeia quer ver essa percentagem aumentar para 32%.
Feitas as análises, tudo indica que rumamos na direção certa. Em 2018, o bloco europeu estava então a dois pontos percentuais de atingir a meta traçada para 2020. No caso português, de todo o consumo energético registado nesse ano, 30,3% veio de energias renováveis, ficando a 0,7 pontos percentuais da meta fixada para 2020 (31%). Portugal ocupou, assim, a sexta posição entre os membros da União Europeia. “Portugal é definitivamente um dos países melhor posicionado e com um grande potencial para as energias renováveis”, considera Antonella Battaglini ao JE.
No que toca à transição energética, as redes de eletricidade desempenham um papel fundamental. Falamos de dezenas de milhares de quilómetros de linhas aéreas, subterrâneas e submarinas que precisam de ser adicionadas às redes existentes caso o bloco europeu queira cumprir com os seus objetivos de energia e clima. Mas quão longe estamos desta transformação e o que implica a transição energética?
Em entrevista ao Jornal Económico, a CEO da Renewables Grid Initiative (RGI, sigla em inglês) explica o papel das redes em relação aos objetivos climáticos e energéticos europeus em 2020 e faz um apelo ao apoio público. “Nem todos estamos prontos e nem todos estão dispostos [a trabalhar na transição energética]. Especialmente se quisermos atingir os targets em 2020, 2030 e finalmente, 2050. Portanto, precisamos de complementar as políticas energéticas com as sociais, para garantir que nós, enquanto sociedade, cuidamos daqueles que se sentem ameaçados pelas mudanças em curso e transitar justa e juntamente”, referiu.
Porém as metas para 2020 são apenas uma parte pequena da história toda. A infraestrutura de energia e as redes de eletricidade são desenvolvimentos essenciais para poder atingir a neutralidade carbónica até 2050.
Os mais vulneráveis a esta transição são os países mais dependentes do carvão, nomeadamente os países da Europa do Leste e Ocidental. Esses países irão receber um investimento reforçado por parte dos agentes da Comissão Europeia para facilitar na transição energética. “O legado do carvão ainda é muito forte nesses países, mas cada vez mais notamos um grande interesse nas energias renováveis. Na Polónia existe uma grande vontade em desenvolver energias offshore, os stakeholders têm noção que o carvão é mais dispendioso que as renováveis, mas construir novas infraestruturas requer muito trabalho e demora muito tempo”, confessou.
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Esse trabalho e tempo pode ser otimizado com a ajuda das ONGs.
Fundada em 2009, a Renewables Grid Initiative, faz uma colaboração única entre organizações ambientais e os operadores de sistema de transmissão (TSOs, sigla em inglês). Duas organizações “inimigas”, mas que partilhavam um objetivo em comum: promover o desenvolvimento de redes transparentes e ambientalmente sensíveis para permitir o crescimento contínuo de energia renovável e a transição energética.
“As TSOs têm um objetivo e ambições cada vez maiores para responder a uma necessidade social de segurança energética, sustentabilidade e mitigação das alterações climáticas”, contou Antonella Battaglini. “O que parecia completamente absurdo em 2009, com industrias opostas a trabalharem juntas, é uma obrigação clara hoje. Os desafios e as oportunidades da transição energética não podem ser resolvidos por apenas um player. Depois de reconhecermos isso, tudo se torna possível, embora não seja fácil”, explicou a fundadora da RGI.
A empresa que começou com apenas quatro colaboradores – a WWF, a Germanwatch.VE, a TeenT e a 50Hertz – conta hoje com 23. “Em Portugal, o mais recente membro é a Zero. Estamos em conversas para que a REN se junte à iniciativa, mas queremos fazer as coisas com calma porque estas colaborações são delicadas. Não nos queremos perder no objetivo principal que é construir uma rede necessária para a transição e respeitar o meio ambiente”, sublinhou.
Questionada sobre se o investimento de 100 mil milhões da Comissão Europeia, que integra no Pacto Ecológico Europeu, e a legislação suficiente, Antonella Battaglini considera que os mecanismos de apoio financeiro e político para o setor renovável têm sido essenciais para reduzir os custos das tecnologias e permitir que elas compitam. Mas ainda há mais a fazer.
“As barreiras de mercado ainda estão presentes, as diferenças na avaliação de riscos para as tecnologias também podem determinar um custo mais alto de capital nos mercados financeiros, aumentando de fato os custos de implantação de energias renováveis”, refere acrescentando que é necessário oferecer apoio a novas tecnologias e modelos de negócios que possam aumentar e recompensar a flexibilidade do sistema.
“De forma geral, espero sempre mais, porque estou fundamentalmente convencida de que todos nós podemos fazer melhor”, sublinha a CEO.
Antonella Battaglini esteve em Portugal para participar no terceiro simpósio da Cátedra REN em Biodiversidade, em Lisboa, na passada sexta-feira, 14 de fevereiro. Entre as áreas abrangidas pela Cátedra REN em Biodiversidade, ministrada na Universidade do Porto, está a monitorização, minimização e compensação da atividade, a ecologia populacional e a promoção da cidadania na ciência.
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