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‘Neutron Jack’, o homem que transformou a GE num gigante

Também era conhecido pelo gestor do século (passado), depois de ter conseguido aumentar em 4000% o valor do grupo. Jack Welch deixa um legado admirado por muitos e criticado por outros tantos. Como Donald Trump, ou talvez antes dele, achava que o aquecimento global era uma invenção comunista.
DR
3 Março 2020, 07h15

Entre 1981 e 2001, o valor da multinacional General Electric (GE), aumentou 4.000% e esse aumento tem um nome: Jack Welch, o gestor que desapareceu esta segunda-feira, 2 de março, aos 84 anos, que se assumiu sempre como apoiante do Partido Republicano e como um feroz opositor ao Estado social.

Quando deixou o cargo, pouco antes do 11 de setembro de 2001, recebeu uma indemnização de 417 milhões de dólares – um recorde mundial è época – afastando-se de um grupo que na altura estava avaliado em 410 mil milhões de dólares (só ultrapassada pela Microsoft), mas que neste momento não chega sequer aos 100 mil milhões.

Jack Welch, que ficou conhecido como o ‘gestor do século’ (XX) nasceu em Peabody, Massachusetts, e era filho de uma dona de casa e de um maquinista da Boston & Maine Railroad. Os seus avós, tanto paternos como maternos, eram irlandeses, que foram em busca do sonho americano.

Não o terão encontrado, mas o neto com certeza que sim: foi caddie de golfe, distribuidor de jornais , vendedor de sapatos e operador metalúrgico nas horas vagas e nos verões, enquanto fazia de tudo para entrar numa universidade que o ‘atirasse’ para uma vida mais confortável. Acabou por encontrar essa porta de entrada no sonho americano na Universidade de Massachusetts Amherst, onde estudou engenharia química, tendo depois rumado à Universidade de Illinois para o doutoramento.

Pelo meio, teve ainda tempo para entrar na fraternidade Phi Sigma Kappa, fundada na Universidade de Massachusetts e que se assumia como uma espécie de rede de apoio para alunos com reconhecidas capacidades que não tinham o benefício de um nome de família sonante.

Welch entrou na General Electric em 1960, precisamente o ano em que se formou, mas não tinha nos planos criar uma carreira no grupo: considerava-se mal pago e envolto numa imensa teia de burocracias internas e chegou a anunciar que iria sair para procurar um salário mais digno. Foi persuadido do contrário. A sua ascensão acabou por ser meteórica: em 1979 passou a ocupar o cargo de vice-presidente da GE e nessa altura já ninguém duvidava que, mais cedo ou mais tarde, a mais alta cadeira da hierarquia haveria de ser sua.

Em 1981, Welch tornou-se o mais novo presidente e CEO da GE (e o oitavo da história da empresa) e passou os dois anos seguintes a desfazer o que o seu antecessor, Reginald H. Jones, tinha construído – o que lhe trouxe alguns anti-corpos na hierarquia, mas não suficientes para o reter. Em jogo estava, dizia, a liderança do setor, que seria atingida através de uma estratégia que Walch gizou do princípio ao fim: forte pendor de crescimento por aquisições (fez mais de 600, algumas delas um pouco desastrosas); informalidade no local de trabalho; combate ao desperdício e aos gastos desnecessários; encerramento das unidades de negócio que pesavam mais como passivos que como ativos.

Internamente, era considerado uma espécie de ditador (chamavam-se ‘Neutron Jack’, como a bomba de neutrões): expulsava quem considerava ineficiente – parece que era pouco dado a conceder segundas oportunidades – e compensava a dedicação e o desempenho – pelo que criou um programa de stock options para os colaboradores que se salientavam. Os resultados eram claros: no início dos anos 80, a GE tinha 411 mil funcionários, para, no final da década, ter apenas menos de 300 mil. Dos 112 mil que deixaram de constar da folha de pagamentos do grupo, 37 mil estavam em negócios que a GE acabou por vender.

Quando Jack Welch deixou o grupo, o seu sucessor fez qualquer coisa parecida com o que o próprio Welch tinha feito duas décadas antes: tentou inverter a estratégia da empresa – o que, com o 11 de setembro, se revelaria fatal – tendo apostado nos mercados imobiliários. Resultado: a CE perdeu valor muito rapidamente e, para já, está muito longe dos patamares a que tinha sido guindada por Neutron Jack.

Com uma vida pessoal cheia de filhos, casamentos e divórcio milionários, Jack Welch colecionou tantos admiradores como detratores – até porque entendeu sempre que a polémica é apenas um dos passatempos do dia-a-dia. O mais notório deles surgiu há poucos anos atrás, quando disse que o aquecimento global não era mais que um ataque dos socialistas, comunistas e outros marginais aos fundamentos do capitalismo – argumento que, pelos vistos, calou fundo em Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Dados cientificamente catalogados, analisados e explicados parecem desmentir esta teoria da conspiração.

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