As eleições legislativas realizadas na segunda-feira em Israel, a terceira em menos de um ano, podem acabar, quando os resultados estiverem todos apurados, num parlamento (o Knesset) de maioria de direita e de extrema-direita – dando lugar a uma coligação ou a um entendimento de base parlamentar que permita alguma estabilidade governativa.
Para esta maioria contribuiu de forma definitiva o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – que viu a sua votação e os lugares correspondentes aumentarem, num quadro em que tudo fazia prever o contrário.
De facto, com o primeiro-ministro a ser acusado de diversos crimes de corrupção e participação em negócio e o maior partido da oposição, o Kahol Lavan, de Benjamin Gantz, a ter o seu melhor resultado eleitoral em setembro passado (esteve prestes a ficar em primeiro lugar), tudo levava a crer que Netanyahu iria finalmente ser derrotado de forma.
Não foi nada disso que sucedeu, e os analistas andam agora em busca de uma explicação – na tentativa de explicar o que levou uma maioria significativa a votar em alguém que o Ministério Público só ainda não levou a tribunal por causa de sucessivos bloqueios políticos e administrativos.
A explicação mais plausível parece ser aquela que tem a ver com… o Irão. O clima de confrontação entre iranianos e israelitas – que tem sido uma realidade no último ano, enquadrada na guerra da Síria – implica tradicionalmente um reforço da votação nos países de direita, mais belicistas que os de esquerda. De algum modo, dizem os analistas, os israelitas sentem-se mais seguros quando têm no governo alguém que dispara antes de fazer perguntas.
A interferência do presidente Donald Trump na campanha – tão clara, que, em setembro, Gantz chegou a queixar-se dela – também terá tido a sua quota parte: o ocupante da Casa Branca teve sempre o cuidado de deixar evidente o seu apoio incondicional a Netanyahu em todas as circunstâncias que a isso se proporcionaram. E se em setembro Trump acenou com um tratado de defesa militar que nunca passou de uma fase embrionária e muito vaga (com Gantz, um militar de carreira, a afirmar que Israel sabe defender-se sozinho), desta vez engendrou um acordo de paz entre israelitas e palestinianos.
Ninguém sabe onde andará esse acordo, dado que a esmagadora maioria da comunidade internacional (União Europeia incluída) recusou subscrevê-lo, mas o certo é que os israelitas terão sentido um crescendo de segurança com o seu aparecimento.
Os analistas políticos também convergem no facto de que Benjamin Gantz decidiu, entre setembro e março, derivar para a direita. A tentativa era a de conseguir convencer a ala mais moderada do Likud (o partido de Netanyahu) a tentar desta vez a opção Kahol Lavan. Mas as coisas saíram-lhe totalmente ao contrário: para quê votar numa réplica, se o original está ali ao lado?
Contados 90% dos votos, o bloco de direita e de extrema-direita coma 59 dos 120 assentos do Knesset – estando por isso a dois da maioria absoluta. Mas nada disto quer dizer que Netanyahu tenha uma vida política fácil daqui para a frente. Nem toda a extrema-direita ‘morre de amores’ pelo primeiro-ministro – e quer seja em coligação quer em acordo de base parlamentar, as negociações que vierem a ter lugar serão duras e possivelmente demoradas.
Os ´proscritos’ da Liga Conjunta Árabe estão também em crescimento. Tradicionalmente desprezados pelas forças mais numerosas, a coligação dos vários partidos israelitas árabes tem vindo a crescer nas três eleições que se realizaram nos últimos 12 meses. Neste momento, já assegurou 15 lugares no Knesset, mais um que aqueles que conseguiu preencher em setembro.
Mas a coligação continuará proscrita, até porque, já antes das eleições, Gantz tinha assegurado que, ao contrário do que fez na sequência das eleições de setembro, não iria desta vez negociar nenhum acordo com ela – uma decisão que não deixava dúvidas sobre a deriva do partido em busca do eleitorado de direita.
Em sentido contrário está a esquerda pacifista, o Meretz, que para já perde quatro dos 11 lugares que tinha assegurado em setembro. A razão é, inversamente, a mesma do crescimento do Likud: em tempos de insegurança externa, o pacifismo tende a deixar de ser uma alternativa aceitável – o que, para muitos teóricos, é um contracenso.
Dentro de menos de 15 dias, a 17 de março, está marcada a primeira audiência num tribunal de Jerusalém dos três casos de corrupção que envolvem Netanyahu – o primeiro-ministro chega aí (se lá for) novamente como titular do cargo e politicamente reforçado pela votação de segunda-feira passada.
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