O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, insistiu hoje na necessidade de nacionalização da companhia aérea TAP e avisou o Governo para não repetir a “dose” de permitir que a empresa continue a ser gerida por privados. “É momento de afirmar da necessidade do controlo público da TAP(…). A defesa da TAP pública, enquanto companhia aérea de bandeira, capaz de responder aos interesses do país é uma exigência inseparável de uma perspetiva de desenvolvimento nacional da qual o povo português não pode prescindir”, declarou Jerónimo de Sousa durante o comício “Nem um direito a menos. Confiança e luta por uma vida melhor”, que decorreu hoje à tarde na Praça D. João I, na Baixa do Porto.
Jerónimo de Sousa avisou o Governo não “repetir a dose”, permitindo que a gestão continue a ser privada e criticou todos aqueles que optaram pela gestão privada da companhia aérea TAP e que a levaram à ruína.
“Esses que cantam loas à iniciativa privada, à gestão privada, aqui está um exemplo concreto da ruína a que foi conduzida esta empresa nas mãos do privado. Esperamos que o Governo não queira repetir a dose permitindo que a gestão continue a ser privada”, disse.
O dirigente comunista lembrou que a TAP é a “principal empresa exportadora do país”, realizando só em 2019 vendas superiores a “3, 4 mil milhões de euros” e afirmou que, se os custos inerentes à viabilização e desenvolvimento da empresa são consideráveis, os custos inerentes a uma possível destruição da TAP seriam “incomportavelmente maiores”.
“No último ano, a TAP foi responsável pelo pagamento por mais de 520 milhões de euros [de salários] e pelo pagamento de 111 milhões de euros à Segurança Social, a que se acrescentam outras dezenas de milhões de euros de outras receitas fiscais, bem como os valores entregues ao Estado, quer de Segurança Social, quer de IRS, por parte dos seus trabalhadores. Uma realidade a que se somam cerca de cinco mil trabalhadores das restantes empresas do grupo, bem como de toda a atividade económica que funciona a montante e a jusante desta companhia”, referiu.
Por outro lado, o secretário-geral do PCP acusou o Presidente da República de estar a “contribuir” para colocar em marcha uma nova vida para um “novo bloco central de interesses políticos e económicos”, e para “branquear o PSD”.
“Estão a pensar dar uma nova vida ao chamado Bloco Central, que pode ser formal ou informal, mas que será sempre como o foi no passado, o bloco central de interesses políticos e económicos. É isso que está em marcha com o contributo do Presidente da República que se tem empenhado para branquear o PSD, a política de direita e as suas responsabilidades, visando promover a sua reabilitação política e reconduzi-lo para um papel de cooperação intensa com o PS”, declarou Jerónimo de Sousa.
Jerónimo de Sousa afirmou ainda que a “conjuntura é propícia para dar uma nova vida ao “bloco central”. “Um tempo que cheira a dinheiro fresco à boleia da epidemia. Anunciam-se milhões vindos da União Europeia que o povo português há-de pagar mais tarde e com juros e a sua distribuição pelo grande capital exige concertação e reposição mais estreita da velha cooperação”.
Sobre os “joguinhos políticos” que o secretário-geral do PS, António Costa, abordou no sábado passado, referindo que Portugal precisa de estabilidade e criticando “joguinhos políticos” à esquerda e à direita dos socialistas, Jerónimo de Sousa classificou-a como uma “expressão infeliz” e lamenta a rejeição de “larga maioria de propostas que o PCP apresentou para o Orçamento Suplementar.
“O Orçamento Suplementar recebeu o voto contra do PCP. Não, não foi por taticismo. Não foi por essa expressão infeliz que ouvimos ontem [sábado] de joguinhos de poder. É que este partido nunca poderia votar numa proposta que propõe cortes nos salários, despedimentos, menos proteção àqueles que mais precisam, menos apoios às pequenas e médias empresas. Este partido tem a consciência que não são joguinhos de poder. O que são, isso sim, é saber que neste momento centenas de milhares de portugueses têm em jogo a sua própria vida e que, nesse momento, tendo em conta este orçamento, podem continuar a contar com o PCP para impedir essa destruição de empregos, de direitos que estão refletidos neste Orçamento Suplementar aprovado”, explicou Jerónimo de Sousa.
A Assembleia da República aprovou, na sexta-feira passada, em votação final global, a proposta de Orçamento Suplementar do Governo, que se destina a responder às consequências económicas e sociais provocadas pela pandemia da covid-19. A proposta foi aprovada apenas com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD, BE e PAN, e os votos contra do PCP, CDS-PP, PEV, Iniciativa Liberal e Chega.
Para o secretário-geral do PCP, este Orçamento Suplementar vem “acentuar” ainda mais a desigualdade e injustiça na repartição de rendimento nacional entre o capital e o trabalho.
“Trata-se de um orçamento que consagra o prolongamento do corte dos salários a centenas de milhares de trabalhadores, ao mesmo tempo que se canalizam milhões para o grande capital. Um orçamento onde faltam soluções para garantir o emprego, para dinamizar o investimento público e garantir apoios que viabilizem as pequeno e micro empresas (…)”, observou.
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