A pior coisa que pode acontecer para a imagem e credibilidade de um Estado é a sensação de suspeita. Só que no caso do procurador europeu não há suspeitas, dúvidas ou mera conjeturas, mas sim factos, que embora sejam sucessivamente desvalorizados pelo Governo, têm merecido reiteradas condenações internacionais.
Há escassas duas semanas, o Parlamento Europeu, que é a casa e a voz da democracia na União, voltou a lançar duras críticas à atuação da ministra da Justiça no processo de escolha do procurador europeu proposto por Portugal, ou melhor, colocado e forçado pelo Governo Socialista.
Por mais que a ministra da Justiça e o Governo queiram sacudir a água do capote, este caso mancha o bom nome do Estado português e envergonha a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.
Estamos a falar da ministra da Justiça de Portugal. E bem pode o Executivo tentar relativizar aquilo que fez e, de seguida, procurar abafar o caso que não vai livrar-se do julgamento dos cidadãos, e não menos importante, das instâncias adequadas, como é o caso do Parlamento Europeu, que condenou de forma categórica e lapidar o Governo português, por 633 votos num total de 690!
A ministra Van Dunem feriu a reputação, a integridade e o respeito pelos elementares princípios da República, ao ter subvertido a cadeia natural de um processo que deveria ser sério, transparente e de mérito. Mas nada disto ocorreu. Só mão visível, a mão de Van Dunem.
Os procuradores europeus devem ser objeto de um processo de seleção com independência, devem estar acima de qualquer favorecimento, cordelinhos e mentiras.
Na Procuradoria Europeia, enquanto instituição, onde Portugal está representado, mora agora o amiguismo, a deturpação, o jobs for the boys na Europa, em resultado de procedimentos não-compagináveis com uma democracia que se quer honesta.
A senhora ministra da Justiça, apesar de uma carta que lhe foi dirigida por cinco eurodeputados continua, de forma grave, a sonegar toda a documentação referente à nomeação do procurador europeu português.
O que esconde Van Dunem?
Irá o primeiro-ministro continuar a insistir na narrativa de “campanha internacional contra Portugal” levada a cabo por três elementos do PSD?
O PS, seja com José Sócrates, seja com António Costa, têm uma ligação com a verdade e com a justiça que é, no mínimo, enganadora, para não dizer mesmo patologicamente patética.
Bem podem apregoar “à justiça aquilo que é da justiça”. Sócrates já entregou o cartão do PS, mas a escola socrática não saiu do PS, continua bem viva no Largo do Rato, incluindo no coração da bancada parlamentar socialista.
De uma vez por todas, o PS deve fazer a psicanálise de Sócrates, mas, presumo, a enfermidade continua lá. O primeiro passo para a terapia é o reconhecimento da doença. Sendo que também chegará o dia em que o PS terá de fazer uma catarse do que foram estes anos de António Costa, aquele que prometeu vacas voadoras e deixa Portugal em tempos de vacas esqueléticas.