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Transportes: Empresas preocupadas com falta de apoio para sair da crise (com áudio)

As empresas do principal meio de transporte de mercadorias em Portugal queixam-se da situação de estrangulamento que resultou da pandemia e viram-se para o governo para conseguiram apoios que consideram essenciais para manter oa atividade.
26 Maio 2021, 08h15

O transporte rodoviário é o modo mais utilizado em Portugal para o transporte de mercadorias, representando quase dois terços da carga transportada. No entanto, apesar deste peso na circulação de bens, o sector queixa-se de não ter o apoio que considera devido, especialmente quando foi necessário enfrentar a pandemia de Covid-19.

“Ao contrário do que ocorreu com a cultura, turismo, restauração, o sector dos transportes rodoviários de mercadorias não beneficiou de nenhum contributo ou benefício específico” para responder às dificuldades criadas pela crise pandémica, diz ao Jornal Económico (JE) fonte oficial da ANTRAM – Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias, apontando que os “mecanismos de apoio mais genéricos que o governo colocou ao dispor de todos as empresas” foram “manifestamente insuficientes para fazer face aos problemas de tesouraria das empresas”. Acrescenta, ainda, que o sector foi “completamente esquecido” no Programa de Recuperação e Resiliência.

A associação, que representa cerca de 2.000 mil empresas nacionais de transporte profissional de mercadorias, refere que as receitas das empresas do sector caíram, em média, cerca de 40% no ano passado, no período do primeiro confinamento, enquadrado pelo estado de emergência que vigorou entre 18 de março e 2 de maio. “Muitos segmentos, como é o caso do transporte de peças de automóvel, roupas, flores e materiais de construção, diminuíram drasticamente ou, em alguns casos, pararam. Nos segmentos que permaneceram operacionais, como os do transporte de produtos alimentares e de equipamentos médicos, as empresas enfrentaram constrangimentos de liquidez devido a longos atrasos no recebimento de pagamentos, mas sobretudo devido ao incremento significativos dos custos relacionados com as ineficiências por subocupação das viaturas, o incremento dos tempos de espera e aumento dos quilómetros em vazio e dos custos salariais, além dos custos fixos contínuos relacionados com as rendas de veículos, alugueres ou até mesmo o pagamento de seguros”, refere a ANTRAM. No segundo confinamento, que decorreu entre 15 de janeiro e 14 de março, a redução da receita “foi menos significativa, uma vez que se assistiu a alguma retoma económica”.

O transporte rodoviário foi responsável por 63,5% da carga transportada em 2019, com pouco mais de 154 milhões de toneladas de bens movimentados, em queda de 2,2% face ao ano anterior, segundo os dados constantes do estudo “A Logística em Portugal – Inovação, Tendências e Desafios do Futuro”, desenvolvido pela consultora KPMG e pela Aplog – Associação Portuguesa de Logística. Tinha 7.696 empresas. Dizem os autores que o sector se caracteriza por uma elevada competitividade, “que se tem acentuado pela expansão dos grandes grupos empresariais, subsistindo, ainda assim, um elevado número de micro e pequenas empresas”. Controlo de custos, inovação tecnológica, preço e a qualidade do serviço são fatores críticos de sucesso, assim como os aspetos relacionados com a cobertura geográfica, internacionalização, dimensão empresarial e organização das rotas. Mais: “As restrições a nível ambiental vão ter um forte impacto na forma de atuar das empresas de transporte rodoviário”, acrescentam.

 

Sector à espera do governo
Para a ANTRAM, o principal desafio dos seus associados consiste em “superar a turbulência económica” que se faça sentir não só em Portugal, mas também na Europa. “Continuamos muito preocupados com as medidas unilaterais impostas por alguns países europeus no que toca ao transporte rodoviário de mercadorias e consequentemente com o grave impacto dessas medidas na economia nacional e o risco de perda de competitividade das exportações portuguesas”, refere a associação liderada por Pedro Polónio. Acrescem os desafios de adaptação a “hábitos sociais e de consumo em mutação”, mas também a escassez de profissionais: “Não podemos ignorar o facto de há largos meses o sector se ver a braços com uma privação de formação de novos profissionais”, dizem. O aumento dos custos de operação é igualmente apontado como foco de preocupação.

Por isso, a forma como a associação olha para o futuro é sombria. “Atualmente, o sector está totalmente estrangulado e a maior parte das empresas encontra-se numa situação muito complexa”, garante a mesma fonte oficial da ANTRAM. “Acresce que, de algum tempo para cá, deixamos de ter respostas concretas do governo às pretensões que apresentámos e que consideramos essenciais para manter o sector e as empresas a funcionar”, acrescenta, sublinhando decisões “que têm vindo a ser tomadas” e que pioram a situação, como “o aumento constante do preço dos combustíveis e a atuação da entidade reguladora, a eliminação da isenção de ISV para as carrinhas comerciais, a eliminação da redução em 50% do IUC nos veículos com licença para transporte de grandes dimensões, o privilégio desmedido do transporte ferroviário em detrimento do transporte rodoviário de mercadorias”, entre outras.

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