Os quatro anos de presidência de Donald Trump tiveram altos e baixos. Entre medidas mais e menos populares, o presidente dos Estados Unidos esteve quase sempre envolvido em polémica, quer a nivel doméstico quer a nivel internacional. Com as eleições ao virar da esquina, estas são algumas das melhores e piores decisões que marcam quatro anos de Trump como presidente dos Estados Unidos.
Derrotar o califado do ISIS e matar Abu Bakr al-Baghdadi
Depois de um esforço de cinco anos liderado pelos EUA, o califado do ISIS foi finalmente derrotado em março de 2019. No final de outubro do mesmo ano, um ataque dos EUA resultou na morte do líder do ISIS, Abu Bakr al-Baghdadi. Baghdadi era o terrorista mais procurado do mundo até aquele momento e a sua morte representou um grande golpe para o grupo terrorista.
Trump rejubilou-se com o feito, chegando mesmo a afirmar que “o ISIS está totalmente derrotado”, embelezando a extensão do sucesso das forças armadas dos EUA contra a organização terrorista durante a sua presidência. Embora o grupo terrorista tenha perdido o seu território, o chamado califado, estima-se que ainda tenham 18 mil combatentes no Iraque e na Síria.
Reforma tributária
A conquista legislativa de Trump continua a ser um projeto de lei tributário republicano que fez mudanças radicais no código tributário – a Lei de Reduções de Impostos e Empregos. Os críticos argumentaram que foi uma sorte inesperada para as grandes empresas às custas da classe média. Enquanto isso, os defensores dos cortes de impostos argumentaram que a mudança desencadearia uma bonança económica. As empresas investiriam mais nas suas operações, disseram eles, resultando em maior produtividade do trabalhador e salários mais altos, segundo o “Business Insider”.
Ainda assim, o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, entre outros, disse que a lei aumentaria o produto interno bruto do país para 3% ou mais, Trump disse 6%, e que consequentemente espalharia a prosperidade. Mas a lei não atingiu nenhum dos objetivos ambiciosos que os republicanos propuseram – e existem poucos sinais de que isso acontecerá.
Reforma do sistema criminal de justiça
Trump assinou o ‘First Step Act’ em dezembro de 2018, marcando a primeira vitória legislativa em anos para os defensores que procuravam reformar o sistema de justiça criminal. O projeto foi aprovado com apoio bipartidário esmagador no Congresso. No entanto, as mudanças são relativamente modestas no sistema penitenciário federal, mas foram elogiadas como um passo importante por grupos e ativistas que querem acabar com o encarceramento em massa.
O projeto revisa certas leis federais de condenação, reduzindo as sentenças mínimas obrigatórias para crimes relacionados a drogas e expandindo os programas de liberação antecipada. O projeto também torna retroativa uma lei federal de sentenças de 2010, reduzindo a disparidade de sentenças entre crimes de relacionados com crack e cocaína.
O projeto também visa reduzir a reincidência, oferecendo mais oportunidades de reabilitação e treino profissional, e inclui disposições destinadas a tratar os prisioneiros de forma humana – proibindo o acorrentamento de presidiárias grávidas, interrompendo o uso de confinamento solitário para a maioria dos presidiários juvenis e exigindo que os prisioneiros sejam colocados em instalações dentro de 500 milhas das suas famílias.
Economia norte americana
Trump frequentemente assumiu os créditos pela robusta economia dos EUA antes da pandemia, ignorando que grande parte do crescimento tinha começado durante o governo de Barack Obama. Neste momento, os Estados Unidos estão a enfrentar uma das piores crises económicas da sua história, que está intrinsecamente ligada à desastrosa resposta à pandemia de Covid-19 pela administração Trump.
Os confinamentos provocados pela pandemia no início de 2020 levaram a dezenas de milhões de perdas de empregos. Desde então, a economia começou a gerar empregos, mas está longe de uma recuperação total, já que os EUA lutam para conter o coronavírus. Cerca de 13,6 milhões de pessoas estavam desempregadas até agosto, com a taxa de desemprego em 8,4%.
Também a dívida nacional dos EUA está nos níveis mais altos desde a Segunda Guerra Mundial, e o crescimento económico dos EUA está definido para uma média um pouco acima de 0% para o primeiro mandato de Trump devido à recessão pandémica, de acordo com o “Washington Post”.
Força Espacial
Ao assinar uma medida de 738 mil milhões de dólares para gastos com defesa poucos dias antes do Natal, Trump estabeleceu oficialmente o sexto braço das Forças Armadas dos EUA – a Força Espacial. A Força Espacial tornou-se no primeiro serviço militar a ser criado desde 1947, quando nasceu a Força Aérea dos Estados Unidos.
Apesar do nome, o novo ramo não foi estabelecido para proteger o planeta de ameaças extraterrestres em potencial, mas tem a tarefa de proteger os recursos militares dos EUA no espaço. “Isto não é uma farsa. Isto é nacionalmente crítico”, disse o general John Raymond, que Trump escolheu para liderar a Força Espacial, aos jornalistas. “Estamos a elevar o espaço de acordo com a sua importância para a nossa segurança nacional e a segurança dos nossos aliados e parceiros”.
Todd Harrison, que dirige o Projeto de Segurança Aeroespacial no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse recentemente ao NPR que o novo projeto “criará uma cadeia de comando centralizada e unificada responsável pelo espaço, porque, em última análise, quando a responsabilidade é fragmentada, ninguém é responsável”.
Pandemia de Covid-19
O tratamento de Trump à pandemia de Covid-19 provavelmente será considerado um dos maiores desastres da história dos Estados Unidos. Centenas de milhares de americanos morreram e milhões estão desempregados. Os Estados Unidos têm o pior surto de coronavírus do mundo, com mais de 6,3 milhões de casos confirmados e quase 200 mil mortes confirmadas. Morreram mais norte-americanos com o vírus do que o número de soldados americanos em combate em todas as guerras desde 1945 combinadas.
Trump desvalorizou repetidamente a ameaça do vírus e contradisse os principais especialistas em saúde pública, desrespeitando as recomendações de conselheiros da sua própria força de trabalho da Casa Branca desenhada para combater a pandemia de Covid-19
Especialistas em saúde pública citaram a abordagem indiferente de Trump ao vírus e a tendência de rejeitar a ciência como um dos principais fatores que explicam por que os Estados Unidos emergiram como o epicentro. Trump recusou-se a aceitar a responsabilidade pelo fracasso na resposta à pandemia, culpando a China.
Charlottesville e George Floyd
A resposta de Trump a um comício neonazi mortal em Charlottesville, Virgínia, continua a ser um dos momentos mais polémicos da sua presidência. A sua resposta aos incidentes tipificou o seu histórico polémico sobre relações raciais e supremacia branca.
Trump culpou “muitos lados” pela violência no comício, que resultou na morte de uma contra-protestante, Heather Heyer. Mais tarde, ele disse que havia “gente muito boa de ambos os lados”. O presidente foi criticado por republicanos e democratas pela sua resposta e por não oferecer uma condenação rápida e enérgica da violência da supremacia branca.
Após a morte de George Floyd nas mãos da polícia de Minneapolis e os protestos que se seguiram em todo o país, Trump também falhou em estar à altura da ocasião. As suas declarações acabaram por dividir mais o país.
Existem vários relatórios que demonstram que a grande maioria dos afro-americanos acredita que Trump é racista, e o seu índice de aprovação com esse grupo demográfico é de 8%, de acordo com “Gallup”.
Imagem global dos Estados Unidos danificada
A imagem global da América caiu significativamente sob Trump, que insultou repetidamente os principais aliados dos EUA enquanto se aproximava de ditadores. A tendência do presidente de afastar aliados importantes e isolar os EUA, inclusive retirando-se de acordos internacionais marcantes como o acordo climático de Paris, teve um impacto palpável.
Pessoas por todo o mundo expressaram opiniões negativas sobre Trump. O Pew Research Center em janeiro de 2020 divulgou uma investigação com 32 países onde revela que 64% das pessoas não confiam em Donald Trump para tomar as decisões “certas” em assuntos mundiais, com 29% a expressaram confiança no presidente. A forma como Trump lidou com a pandemia de Covid-19 também deixou os EUA numa posição delicada face ao cenário mundial, criando um vazio na liderança global que a China se apressou em preencher.
Contrair Covid-19
Como presidente dos Estados Unidos, Trump é a pessoa mais protegida do planeta. O fato de ter contraído Covid-19 representa uma falha catastrófica e uma crise de segurança nacional para os EUA. O presidente rotineiramente desrespeitava as recomendações de saúde pública antes de ser infectado. Menos de uma semana antes de ser diagnosticado, por exemplo, Trump gozou com o seu adversário às eleições presidenciais, Joe Biden, por este usar máscara rotineiramente em público.
Os principais especialistas em saúde pública têm insistido repetidamente para que os americanos usem uma máscara ou cobertura facial, proclamando a prática como a melhor ferramenta disponível no combate ao vírus.
Trump foi diagnosticado com COVID-19 poucos dias depois de essencialmente realizar um evento de divulgação no Rose Garden da Casa Branca para anunciar o seu nomeado para a Supremo Tribunal de Jusitça. Os participantes não se distanciaram socialmente e muitos foram vistos sem máscaras, como consequência, mais de 12 pessoas na órbita de Trump testaram positivo para Covid-19 desde o evento.
Guerra comercial contra a China
A Organização Mundial do Comércio (OMC), um órgão que os Estados Unidos ajudaram a criar, determinou que as tarifas que Trump quis impor sobre produtos chineses violava as regras da organização. Simbolicamente, a decisão sublinhou o facto de que a guerra comercial foi uma violação dos próprios princípios dos EUA.
Na prática, porém, a decisão pouco significará para o governo. Trump e sua equipa continuarão a afirmar que as negociações estão em andamento e que o progresso está a ser feito. Mas os dados não confirmam isso. Em julho, o déficit comercial dos EUA – a medida que Trump afirmou que iria reduzir ao travar essa guerra comercial – atingiu seu nível mais alto desde 2008, segundo o “Business Insider”.
Depois, há o acordo comercial da ‘primeira fase’ que os EUA e a China fizeram. Pequim prometeu comprar grandes quantidades de produtos dos EUA para fechar o déficit comercial, que ainda não aconteceu, e impulsionar a economia americana. Mas os dados do Instituto Peterson de Economia Internacional mostram que a China não está a cumprir com os seus objetivos de compra de bens dos EUA.
Ainda assim, as medidas estenderam-se até outros campos, como a proibição às empresas americanas de colaborar com empresas chineses, sendo o exemplo da Huawei o mais evidente, no qual Trump impediu que a empresa de telecomunicações chinesa explorasse a nova rede de quinta geração em território norte-americano.
‘Impeachment’
A Câmara dos Representantes aprovou dois artigos de impeachment contra Trump, um por abuso de poder nas suas negociações com a Ucrânia e outro por obstrução do Congresso devido aos seus esforços para impedir o inquérito de impeachment.
Trump instou a Ucrânia a iniciar investigações sobre os seus rivais políticos, enquanto simultaneamente, retinha cerca de 400 milhões de dólares em ajuda militar aprovada pelo Congresso do país, que está a travar uma guerra contínua contra separatistas pró-russos.
O presidente foi absolvido de julgamento no Senado, mas ainda será considerado o terceiro presidente na história dos EUA a sofrer impeachment. O senador GOP Mitt Romney, de Utah, também fez história ao votar para condenar Trump, marcando a primeira vez que um senador votou para condenar um presidente de seu próprio partido.
Saída do acordo nuclear com o irão e morte do general Qassem Soleimani
A decisão de Trump de retirar unilateralmente os EUA do acordo nuclear de 2015 em maio de 2018 induziu o caos em todo o Médio Oriente. A decisão continua a ser uma das mais impopulares de Trump na arena global e foi condenada pelos principais aliados dos EUA que também eram signatários do acordo.
O presidente não conseguiu impedir o comportamento agressivo do Irão na região através de uma campanha de pressão máxima, que visa obrigar Teerão a negociar uma versão mais rígida do pacto. Após uma série de incidentes na região do Golfo Pérsico em 2019, as tensões entre Washington e Teerão atingiram níveis históricos e geraram temores de guerra. Esses temores foram exacerbados depois de Trump ordenar um ataque que matou o principal general do Irão, Qassem Soleimani, no início de janeiro. O ataque levou o Irão a retaliar e a disparar contra as tropas norte-americanas na região, dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas.
Depois dos incidentes e, sem surpresa, o Irão abandonou o acordo nuclear de 2015, que foi projetado para impedir o país de obter uma arma nuclear.
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