Chefias que anunciam que fulano está supranumerário e que pode aguardar em casa, que um contacto posterior lhe será feito para lhe ser apresentada uma proposta de rescisão.
Era uma vez um banco oriundo de uma pequena, mas próspera região peninsular. E que se fez grande, em duas décadas.
Um banco que soube ser paciente, esperando por momentos de crise de outros, para crescer por aquisições e absorções, não raras vezes a pedido das autoridades.
E assim, pé ante pé, saltou de uma mera relevância regional para um potentado no seu país, primeiro; no país vizinho (o nosso) depois; seguiram-se a Europa e as Américas.
Um banco que soube, como poucas empresas no mundo, cultivar os círculos da ciência e da educação universitária, com isso ganhando relevância, notoriedade e capital afectivo junto dos círculos de poder e de opinião publicada.
Mas um banco que por lusas paragens, talvez recebendo não bons ventos do país vizinho, parece querer alinhar numa reestruturação, púdico eufemismo para o desemprego de centenas de trabalhadores bancários. Os mesmos que conseguiram que esse banco fosse um marco na rendibilidade e serviço aos clientes.
Trabalhadores que não se conformam a que a sua empresa bancária seja vista, pelos accionistas, numa lógica meramente extractivista que teria feito as delícias de uma qualquer Companhia das Índias de tempos idos.
Chefias que anunciam que alguém está supranumerário, ignorando os deveres que competem aos empregadores. Reuniões de apresentação de condições de rescisão, primeiro, e de comunicação de decisão por parte do trabalhador. Com este a recusar, uma e outra vez, a ‘oferta’. E a chamada telefónica, algum tempo depois, indagando se não quer mudar a posição, pois a intransigência não parece sensata. Talvez ignorando que assédio moral é coisa feia, indigna e criminalmente punida.
Onde em violação das leis da República os trabalhadores são deslocalizados, geograficamente, sem terem direito ao pré-aviso que permita reconstituir as deslocações e a conciliação com obrigações familiares e escolares.
Num banco que nos habituámos a admirar, este comportamento deverá ser de molde a questionarmos os notáveis, a opinião publicada e os círculos dos decisores políticos, até agora próximos do banco, se se revêem neste comportamento.
Porque nós não alinhamos na violação de leis e de direitos. Tal como nunca nos eximimos aos nossos deveres.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.