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Siza Vieira ao JE: Programa Apoiar já aprovou apoios no valor de 356 milhões de euros, dos quais 27% estão pagos

Numa entrevista que será publicada amanhã, na edição semanal do Jornal Económico, o número dois do Governo responde a questões sobre a retoma económica, os apoios do Estado aos sectores mais afetados pela pandemia, os planos para recapitalizar as empresas após o fim das moratórias bancárias, a TAP, a litigância em torno do 5G, a estabilidade do setor financeiro e a estratégia de reindustrialização europeia, que será uma das prioridades da presidência portuguesa.
Cristina Bernardo
17 Dezembro 2020, 14h25

Numa entrevista que poderá ser lida amanhã, na edição semanal do Jornal Económico, o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, faz um balanço dos apoios às empresas desde o início da pandemia, incluindo o novo programa Apoiar. Segundo Siza Vieira, à data de hoje, o novo programa, anunciado há três semanas, aprovou apoios às empresas no valor de 356 milhões de euros, dos quais 97,7 milhões (27%), já foram pagos.

“Esse programa já começou a fazer pagamentos. Já aprovámos 38.159 candidaturas com um valor de incentivos de mais de 356 milhões de euros e já fizemos pagamentos de 97,7 milhões de euros, que correspondem à primeira fase. Os apoios do programa Apoiar já estão a chegar à economia e vão continuar até janeiro, fevereiro”, afirmou Pedro Siza Vieira, na entrevista que será publicada esta sexta-feira, 18 de dezembro, estando disponível nas bancas de todo o país e, para os nossos assinantes digitais, no JE Leitor.

Na entrevista, Siza Vieira aborda temas como a retoma económica, os planos para recapitalizar as empresas após o fim das moratórias bancárias, o investimento do Estado na TAP e o papel do Banco de Fomento, entre outros.

Um dos aspetos abordados foi a reindustralização da Europa, que será uma das prioridades económicas da presidência portuguesa da União Europeia. Siza Vieira considera que a Europa percebeu que “a sua liderança tecnológica tradicional já está posta em causa” e que “não dispõe de matérias-primas e de componentes críticos para o seu funcionamento”. Sem o investimento em tecnologias de futuro, a Europa não conseguirá liderar no setor industrial, defende o ministro, realçando a necessidade de assegurar a autonomia estratégica da Europa, a qual passará também, pela aposta em novas fontes de energia, como o hidrogénio.s.

Siza Vieira sinaliza que a estratégia industrial europeia que visa criar as condições para a Europa recuperar um maior peso na  é um dos temas que vai marcar a próxima presidência portuguesa do Conselho da União Europeia primeiro semestre de 2021, sucedendo à Alemanha.

Sobre a estratégia industrial europeia, o governante defende que aquilo que a Europa percebeu nos últimos anos, e sobretudo durante esta pandemia, foi que “viveu muitas décadas com uma liderança tecnológica e uma liderança industrial num conjunto de produtos e tecnologias que já vinham de trás e o que fez, diz, “foi delegar” nos países asiáticos a produção de bens de consumo mais baixo, exportando produtos de tecnologia avançada e focando-se também muito nos serviços. Uma estratégia, acrescenta, que também “nos permitia ter um nível de vida bom”.

Pedro Siza Vieira deixa, no entanto, o alerta: “agora a Europa percebeu foi que a sua liderança tecnológica tradicional já está posta em causa”. Explica aqui que os chineses já são os maiores produtores de automóveis e dominam a tecnologia da mobilidade elétrica que, frisa, “vai ser a mobilidade do futuro e que as tecnologias indispensáveis no futuro à volta do digital estão dominadas pelos Estados Unidos e pela China”.

O ministro da Economia dá ainda conta de que a Europa não dispõe de matérias-primas e de componentes críticos para o seu funcionamento. “Se temos maior incerteza geopolítica, se os Estados Unidos não nos asseguram a proteção que beneficiámos durante vários anos percebe-se como a posição da Europa é relativamente frágil”, defende, acrescentando que quando se fala de autonomia estratégica e de resiliência “fala-se precisamente de criar condições para que todos os cidadãos da Europa não vejam o seu modo de vida posto em causa porque de repente alguém corta o fornecimento de uma matéria-prima crítica”.

“Estamos ao mesmo tempo a querer manter como uma voz a favor de uma economia global aberta, assente em regras e organizações multilaterais, mas ao mesmo tempo fazemos o nosso trabalho de casa para reforçarmos a nossa autonomia estratégica”, realça Siza Vieira.

Sobre a autonomia estratégica destaca a valorização dos produtos made in Europe, a defesa do mercado interno relativamente à entrada de produtos que não respeitam as  regras europeias nos seus processos de fabrico. “Isso é uma área muito significativa, como também a criação e o investimento em tecnologias de futuro sem as quais a Europa não conseguirá liderar no setor industrial”, referindo-se aqui “a algumas tecnologias digitais”.

O governante afirma que os Estados Unidos e mesmo a China lideraram claramente a internet das pessoas e os próximos anos vão ser da internet das coisas e da internet aplicada à indústria e aplicada aos transportes e a um conjunto de serviços muito complexos. “Aí é preciso desenvolver tecnologias e aplicar computação avançada, inteligência artificial, tecnologias da cloud às questões específicas da indústria e da atividade económica. E a Europa quer fazer investimentos muito significativos aí”, explica.

Questionado sobre soluções como os smart contracts (com tecnologia blockchain), que permitiriam, por exemplo, que a aplicação de fundos europeus fosse imediata, dispensando intermediários financeiros, Pedro Siza Vieira revela que entre as várias tecnologias digitais que se quer apoiar e incentivar estão também as tecnologias blockchain e a sua aplicação a um conjunto de setores muito significativos.

“A conjugação disso, a computação avançada, inteligência artificial, etc é aquilo que permitirá que tenhamos uma indústria mais eficiente, mais produtiva, menor consumidora de recursos e também nos serviços, na logística, nos transportes, todas essas tecnologias vão trazer transformações exponenciais”, conclui.

Reforço da autonomia estratégica e o papel do hidrogénio

O ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital defende ainda que o reforço da autonomia estratégica “passa por projetos como o hidrogénio”. E rejeita as críticas em Portugal a essa opção.

“Não consigo acompanhar muito bem essas perspetivas. Aquilo que se falou no início sobre o hidrogénio verde foi muito à volta da ideia de um grande projeto que seria até mais virado para a parte elétrica. Julgo que hoje em dia as pessoas já percebem que o tema do hidrogénio não é nacional, é um tema global e que tem a ver com várias aplicações que não apenas ser uma componente e armazenamento de eletricidade”, afirma.

Siza Vieira explica que aquilo que é mais importante é o hidrogénio como matéria-prima nos processos industriais, recordando que o maior projeto que está pensado em Portugal é o de Estarreja, “de utilizar gases renováveis para integrar nos processos da indústria química”.

O governante realça que “é isso que leva os países do norte da Europa a estarem muito interessados no hidrogénio verde e outros gases renováveis verdes. Ao misturar-se com o gás natural também ajuda a reduzir a intensidade carbónica do gás natural que consumimos. Portanto, existe um grande interesse”.

Sobre os aspetos críticos para produzir hidrogénio verde, Siza Vieira sinaliza o custo da energia elétrica. “A França tem energia nuclear, que é barata e quer dominar a energia do hidrogénio verde, aproveitando ter energia barata. Países do sul da Europa, como Portugal e Espanha têm energia barata também, que é a solar. Julgo que há uma oportunidade para a Europa, se desenvolver as tecnologias necessárias para a produção de gases renováveis e com isso sermos capazes de não apenas conquistar a nossa auto suficiência energética, mas também sermos capazes de termos a tecnologia necessária para sermos capazes de fazer isso sem termos que estar a comprar a outros países do mundo”, conclui.

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