O ano de 2021 será decisivo para sinalizar se existirá concordância entre as palavras e as ações dos líderes mundiais, bem como se as decisões tomadas começarão a dar os seus frutos para a obtenção de resultados tangíveis no combate às alterações climáticas, situação que o secretário geral da ONU destacou há duas semanas ser “de emergência”.

Como salientou António Guterres no seu discurso de abertura na Cimeira da Ambição Climática, o mundo “ainda não está a ir na direção certa” e um aumento de temperatura de mais de 3 graus neste século seria catastrófico.

No entanto, pese embora o efetivo risco que paira sobre o planeta e a humanidade, há vários sinais recentes que permitem encarar a situação com mais esperança e otimismo do que anteriormente. Disso mesmo fez eco há poucos dias o “Financial Times” que, num artigo intitulado “The Paris goals are within reach” (Os objetivos de Paris estão ao alcance), destacou vários sinais muito positivos que deverão contribuir para a redução da temperatura global em até menos 1,4º Celsius.

Um dos sinais positivos, bem recentes e em termos ambientais, é obviamente a eleição de Joe Biden. Não só porque o novo líder norte-americano já anunciou querer que os EUA regressem ao Acordo de Paris, como também pretende mesmo liderar o processo de combate ao aquecimento com o compromisso de que, sob a sua administração, os EUA têm como meta a neutralidade em emissões de gases com efeito de estufa até 2050, tendo anunciado a convocação de uma cimeira internacional sobre o tema no prazo de 100 dias após a sua tomada de posse.

Recorde-se que os objetivos do Acordo de Paris, definidos em 2015, serão legalmente confirmados em 2021 na conferência das partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as alterações climáticas, momento em que os cerca de 200 países signatários apresentarão “novas contribuições determinadas nacionalmente e metas concretas de neutralidade carbónica”.

Com a reentrada dos EUA e os anúncios recentes de compromissos com zero emissões e de neutralidade carbónica por parte da China, do Japão e da Coreia do Sul, mais de metade (63%) das emissões poderá ser reduzida, se os respetivos países cumprirem com as suas promessas e metas.

Nas palavras de Rémy Rioux, responsável pela Agência de Desenvolvimento francesa: “As estrelas parecem estar alinhadas novamente. O Green Deal na Europa, as eleições nos EUA, o compromisso chinês em setembro… Estamos a entrar numa nova fase em que o multilateralismo recuperará o seu momentum”.

Se será ou não assim veremos. Tudo dependerá da passagem das palavras à prática. Em Portugal, por exemplo, o Governo ainda está na fase de falar em “integrar medidas relacionadas com alterações climáticas nas políticas, estratégias e planeamentos nacionais”, quando isso deveria ser já um dado adquirido.

Tendo em conta a quadra, prefiro no entanto terminar esta crónica numa nota de otimismo e de crença na Humanidade e nos seus responsáveis, para um assunto tão relevante que determina o futuro de todos.

 

 

Este texto será publicado já depois do Natal, mas não poderia deixar de enviar as minhas saudações a todas as famílias portuguesas obrigadas a limitar os seus afetos, beijos e abraços entre familiares nesta quadra e que, agora, enfrentarão também as limitações associadas às celebrações do final do ano. Tenhamos todos esperança e coragem para enfrentar as provações, na certeza de que melhores tempos brevemente virão.

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