Filipa Fonseca Silva é licenciada em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica. Ainda pensou em dedicar-se ao jornalismo – até porque escrever é uma necessidade –, mas descobriu a publicidade e seguiu esse caminho, mantendo-se como copywriter numa agência de renome e exercitando a criatividade e a fértil imaginação com que se define. Aliás, além de escrever, pinta e coleciona sapatos. E alimenta o seu blog “crónicas de uma fashion victim”, apesar de confessar ser o tempo curto para fazer jus ao título.
Barreirense, nascida em 1979, está à beirinha dos “enta”, mas o que a lançou para a ribalta foram os trinta, mais exatamente “Os Trinta – Nada é como Sonhámos”, o título do seu primeiro romance, publicado em 2011. A 4 de novembro de 2013, uma terça-feira, a tradução da sua primeira obra em língua inglesa entrou no top 100 de livros mais vendidos da Amazon – número 97 nos mais vendidos da categoria Women’s Fiction –, ao lado de autores como Danielle Steel ou E. L. James., a plataforma de vendas online que é a maior livraria do mundo. Foi a primeira autora portuguesa a conseguir tal feito.
Depois, vieram “O Estranho Ano de Vanessa M.” e “Coisas que uma Mãe Descobre (e de que ninguém fala)”. Agora, vem um livro diferente: “Amanhece na Cidade”, que foi a desculpa que encontrámos para algumas perguntas.
Como nasceu a ideia para este “Amanhece na Cidade”?
Nasceu de uma viagem num táxi, com um taxista que, em quinze minutos, me contou a vida toda, enquanto chorava desalmadamente. A partir do momento em que decidi que ia escrever sobre este taxista que chorava à frente dos clientes, começaram logo a surgir as outras personagens e os temas que queria abordar com este livro: Lisboa, o preconceito, a culpa e a redenção.
Que estilo prefere, crónica, romance?
Romance, sem dúvida. Embora a crónica seja uma maneira mais imediata de “falar” com o meu público sobre temas do dia-a-dia e, ao mesmo tempo, um estilo familiar que me remete para os tempos de estudante, quando achava que ia ser jornalista.
Utiliza o conhecimento do trabalho na publicidade para os seus livros?
Não tanto da publicidade, mas de muitas outras áreas, como a pintura, a música ou o cinema. Eu escrevo sobre pessoas, em toda a sua complexidade de sentimentos e angústias. A publicidade fala sobre produtos, necessidades imediatas e efémeras.
É fácil ser escritor em Portugal?
Não! Nada fácil! E muito menos escritora. Além de se ler muito pouco e de se investir quase nada na literatura, um mal com que todos os escritores sofrem, ainda tenho de lutar contra o preconceito de género. Para muita gente, incluindo editores, livreiros e sobretudo críticos, as mulheres só escrevem romances cor-de-rosa e os jovens autores só merecem ser lidos depois de ganharem um prémio. É um meio muito fechado, um pouco snob até. Resultado: se as pessoas não ouvem falar dos livros e dos autores, não arriscam a comprar, acabando por investir nos nomes sonantes, maioritariamente estrangeiros. E não saímos disto.
Continua sem tempo para ser uma fashion victim?
Infelizmente. Mas a verdade é que, hoje em dia, a moda tem outro peso na minha vida. Continuo a gostar de estar a par das tendências e de saber o que determinados costureiros que adoro apresentam a cada estação, mas tenho maior consciência do lado perverso da indústria da moda: a exploração do trabalho, o compra e deita fora, o impacto ambiental de cada peça que vestimos.
Como é possível conciliar todas as facetas da vida: escritora, mas também mãe, esposa, profissional, etc.?
Não é fácil, mas quando se faz o que se gosta, quando se tem paixão por uma coisa como eu tenho por escrever, encontra-se forma de encaixar tudo. Tenho muitas ideias à espera de tempo para ganharem corpo, mas também sei que o tempo voa e daqui a nada os filhos saem de casa. Acho que o segredo é não sentir culpa. Não sentir culpa quando, por exemplo, deixo os miúdos para ir de férias só com o meu marido, ou quando largo o novo livro durante umas semanas devido a exigências profissionais. Há momentos para tudo.
Como é estar no top 100 da Amazon?
É fantástico. É ter a certeza de que tenho uma voz que chega até ao outro lado do mundo. Que há pessoas de outros países, com outras vivências e culturas, que se revêem no que escrevo. No fundo, é ter reconhecimento pelo meu trabalho e isso só me pode deixar muito feliz.
Novos projetos?
Muitos. Um deles para sair já em 2018. Mas ainda não posso revelar pormenores. Posso apenas adiantar que nem é um romance, nem é uma sequela do “Coisas que uma Mãe Descobre”.
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