Escrevia a Wired Magazine, em 2015, que as fábricas estavam prestes a ficar inteligentes – falava-se em fábricas do futuro. Um ano depois, em 2016, a Forbes alertava que a questão não era “se a indústria 4.0 estava a chegar, mas quão rápida estava a vir”. A verdade é uma: o desenvolvimento tecnológico não se pode travar e esta é uma premissa que as empresas, grandes indústrias e governos começam a entender, ainda que lentamente.
Os hábitos de consumo mudaram, os consumidores estão em constante transformação e a forma como os produtos chegam ao cliente final está a mudar drasticamente. Se antes a relação produtor-distribuidor-cliente estava mais que consolidada, atualmente já não se verifica tal consistência. O consumidor está cada vez mais ativo e independente, consegue alcançar e adquirir um produto, qualquer produto, de forma quase autónoma, em qualquer parte do mundo, sem grande esforço.
Esta equação torna-se ainda mais densa se adicionarmos as informações pessoais, dados de pesquisa e desejos de cada consumidor. O acesso aos detalhes e especificações de cada consumidor permite à indústria aplicar este conhecimento no desenvolvimento de produtos cada vez mais direcionados para o gosto de cada indivíduo. Cabe à indústria implementar mudanças significativas, que valorizem o capital humano e que, sobretudo, consigam superar as expectativas de cada consumidor, da forma mais personalizada possível, quase exclusiva.
É neste sentido que a implementação da indústria 4.0 poderá interferir, dotando as empresas de sistemas capazes de adaptar os produtos, mesmo produzindo-os em grande escala, sempre com um fator surpresa, que poderá ser, a título de exemplo, através da entrega personalizada ao domicílio. É necessário, também, ter em conta que o consumidor valoriza a exclusividade, procurando produtos idealizados de acordo com os seus gostos e experiências.
A indústria 4.0, que implica a digitalização da indústria, vai mais além da modernização de processos e sistemas. Existe toda uma aprendizagem que deverá impulsionar este movimento, principalmente no que diz respeito a uma educação tecnológica que ainda oferece resistências, naturalmente. É neste contexto que os governos têm um papel preponderante na introdução da indústria 4.0 no tecido industrial de cada país, através da criação de oportunidades e incentivo à modernização não apenas das empresas, mas da economia, das relações interpessoais e da sociedade.
Em 2016, Portugal deu o primeiro passo para introduzir e impactar de forma positiva o tecido empresarial português, através do programa Indústria 4.0, que prevê a implementação de uma série de medidas que “permitirão requalificar e formar em competências digitais mais de 20.000 trabalhadores”, segundo a COTEC Portugal, entidade responsável pela monitorização da implementação das medidas.
O desejo é que, nos próximos anos, possam ser as próprias empresas a escrever sobre o futuro da indústria, definindo metas, desafios e objetivos alcançados com a digitalização industrial.