Em 2017, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo divulgou no primeiro de abril que, nas suas embaixadas, o atendimento de chamadas telefónicas seria automático e diria: “para um agente russo fazer uma chamada a um opositor político – prima um; para contratar os serviços de hackers russos – prima dois; para interferência em eleições – prima três e espere pelo início da campanha”. Este ano não repetiu a graça acrescentando “para se livrar de alguém – prima quatro”.
Esta prática das piadas políticas de primeiro de abril tem séculos. O “poisson d’avril” vem do “Édit de Roussillion” de Charles IX, em 1564, fixando o início do ano a 1 de janeiro, que até aí começava entre 25 de março e 1 de abril. Em 1915, a “Tribune de Genève” noticiou que um aviador francês fez alemães fugir do que parecia uma grande bomba – uma bola cuja etiqueta dizia “primeiro de abril”. Em 1931, a Newspaper Enterprise Association divulgou que Al Capone era candidato a Mayor de Chicago. Em 1941, o Governo de Vichy prendeu 13 pessoas por prepararem “um primeiro de abril comunista”, apanhados com falsas placas dizendo “Rue Maurice Thorez”, dirigente comunista recém-fugido para a Rússia, para substituir as verdadeiras. A 1 de Abril, Robert Rich, congressista republicano que todas as sessões fazia uma intervenção de um minuto sobre dívida pública, de tema “are we going to get the money?”, tomou a palavra para apenas gritar “April Fool!”, sendo ovacionado por todas as bancadas.
A BBC noticiou em 1957 uma produção suíça recorde das árvores de esparguete, que causou muitos telefonemas a perguntar como se cultivavam. Em 1985, Thomas Downey, congressista democrata de Nova Iorque, propôs baixar a idade mínima para membro do Congresso para 15 anos, com a presidência do Comité da Acne e a justificação de faltas pela mãe. No ano seguinte, o Department of Energy inglês publicou em página inteira no Times e no Guardian o aviso que às 11:02 o eixo da Terra seria rodado para aumentar a temperatura e poupar energia. No mesmo ano, o primeiro-ministro dinamarquês Poul Schluter deu uma conferência de imprensa a anunciar ser prioridade da CEE fazer os britânicos conduzir pela direita.
Em 2003, a Comissão Europeia emitiu um comunicado a proibir os ovos de casca simples, demasiado frágeis. Em 2004, a Câmara Municipal de Oslo divulgou a descoberta nas escavações do metro de restos de um hominídeo com 15 mil anos, o “homo metro”. Em 2013, o deputado Frédéric Poisson propôs uma lei para proteger os políticos com nomes aquáticos, injustamente acusados de “fishy business”, apoiado por Franck Marlin (espadarte) e Philippe Goujon (gudgeon – cadoz); opôs-se-lhe Jean-Marie Tétart (girino). Nós não nos saímos bem: os russos não perceberam que a nossa recente declaração sobre Skripal era primeiro de abril.