O ano de 2018 é um marco histórico que assinala os primeiros dez anos após o início da crise financeira que assolou o mundo. Foram dez anos que demoraram a passar e que trouxeram consigo alterações profundas ao paradigma económico e financeiro. As empresas estão mais robustas e começam agora a olhar para o mundo que as rodeia, para se adaptarem às diferentes exigências. As questões relacionadas com a responsabilidade social assumem uma maior importância e obrigam o mercado a moldar-se para se enquadrar. As mudanças tecnológicas também são da mais alta importância e assumem-se como chave para as empresas que se querem destacar num futuro próximo.

Todos percebemos que o motor da mudança veio do topo, através dos governos e instituições, que vieram salvar os que estavam a cair. Mas há mudanças que vieram também da base, da força de trabalho, que nos dias de hoje é distinta e que obriga as empresas a assimilar essas diferenças. A geração millennial entra no mercado de trabalho e as empresas, além de se preocuparem com a sua adaptação ao mercado, vão ter de se adaptar à nova força de trabalho.

E desta força que vem de cima, dos governos, nasce uma maior influência. Na profundidade da crise financeira, a análise custo/benefício de aceitar a intervenção dos governos era relativamente fácil: aceitar ou morrer. Mas dez anos depois, as empresas estão sob uma pressão e escrutínio cada vez maior. Essas empresas que aceitam estas novas mudanças e realidades, e as introduzem nas suas práticas de negócio, serão mais resilientes quando tiverem de enfrentar novas mudanças do que aquelas que assumem que nada muda.

Mas uma das maiores aprendizagens que podemos observar destes anos, é a importância que hoje é dada ao risco e a atenção para que este reduza. Mas mais do que isso, a visão dos reguladores mudou fundamentalmente para começar a priorizar a proteção do consumidor e o papel social das empresas. Os bancos, por exemplo, tiveram de mudar as suas práticas de negócio, investir nas suas áreas de compliance e demonstrar uma maior integridade cultural. Mas os desafios vão além dos bancos e abarcam inúmeros setores, como o segurador, tecnológico, automóvel, telecomunicações e serviços.

O capitalismo, que esteve sempre apoiado na ideia de destruição criativa, quase que mudou de definição. Os governos, que normalmente entram nos espaços em que o mercado força a existência de falhas, foi chamado a intervir, quebrando com a máxima do “deixa andar” e caminhando para uma maior intervenção para todos os setores.

Com a proteção e minimização do risco no centro das operações e com a regulação de entidades superiores, o ambiente de investimento tem vindo também a transformar-se ao longo desta década. Os estímulos do Banco Central tinham como objetivo garantir a estabilidade económica, mas tiveram de lidar com outras consequências. Para os mercados acionistas, anos de flexibilização quantitativa com efeitos na redução de taxas de rendimentos de obrigações levaram os investidores a ir a todos os setores oferecendo fluxos de dividendos estáveis. Agora que a flexibilização quantitativa desaparece e as taxas de rendimentos normalizam, podemos esperar mudanças significativas.

Estas mudanças são um desafio imenso, que nos obrigam a todos a repensar a nossa atuação. Mas são uma enorme oportunidade para investidores que, depois destes dez anos, esperam uma divisão clara entre os que superaram a crise e se declaram vencedores e os que sucumbiram, perdendo terreno.