A década de 60 do século passado ficou para a história pelas profundas reformas sociais e políticas, assim como pela guerra. Mas não nos podemos esquecer de que também foram anos de uma inflação crescente, que devemos olhar com atenção para não cairmos no mesmo caminho.
Um dos fatores que todos devemos ter em atenção em 2018 é a inflação dos preços de produtos de consumo nos EUA, que irá influenciar os mercados. Enquanto que no turnaround de 2017, quando uma inflação positiva e inesperada ajudou a criar um ambiente económico Goldilocks (não demasiado quente que cause inflação, mas não demasiado frio que cause recessão), agora estamos perante uma subida de preços, confirmada pelos recentes aumentos no preço do petróleo. Mas também é de esperar uma inflação estrutural, que exclui o setor alimentar e energético, mas que irá crescer na medida em que a pressão no ciclo económico forçar a subida de custos do emprego e as empresas a subir os preços.
Tal como em 1960, a pouca inflação do início do ano passado surpreendeu muitos e lançou a questão entre economistas sobre se a ligação tradicional entre o desemprego e a inflação desaparecera. A nosso ver, esta aparente desconexão foi o reflexo de um misto de fatores conjunturais, como a globalização e o aumento do impacto da tecnologia, assim como problemas na medição concreta nos fluxos do mercado de trabalho.
Mas a comparação com a década de 60 é particularmente relevante, uma vez que foi também um período em que a inflação parecia não estar a responder aos estímulos económicos antes de disparar. O desemprego desceu consistentemente na primeira metade da década, de 7% para 3,5% até 1968, com pouco impacto nos ordenados médios e nos preços. No entanto, num aviso para os dias de hoje, esta tendência mudou depois 1965, quando os preços começaram a aumentar significativamente e a inflação acelerou 6% até ao fim da década.
Um dos estímulos para esta alteração foi a expansão fiscal dos EUA, com o investimento na guerra do Vietname e no aumento da despesa interna. Não observamos as mesmas tendências nos dias de hoje, mas temos a mesma combinação de um aumento fiscal com um ciclo económico complexo.
Contudo, houve dois outros fatores relevantes no que diz respeito à inflação dos anos 60. Em primeiro lugar, houve um aumento das despesas na saúde, com a formação de sistemas que tinham como objetivo ajudar os mais desfavorecidos a ter acesso a ela. Nos dias de hoje, observamos até o contrário, com um desinvestimento sucessivo na área. Em segundo lugar, no final da década de 1960, a reserva federal americana não controlou suficientemente as políticas monetárias para prevenir a inflação.
Olhar para o passado pode prevenir erros do futuro. No final da década de 60 acreditava-se que a taxa de desemprego continuaria a descer, quando os estudos recentes demonstram que, na altura, a economia já estava a operar acima da capacidade.
O importante é ter em mente que o passado pode dar-nos respostas de como resolver questões do presente e prevenir erros no futuro, mesmo quando as semelhanças são dúbias ou parecem não estar à vista. Embora as conjunturas sejam essencialmente diferentes, há paralelismos que temos de observar com atenção.