Antes da pandemia, falava-se no problema da estagnação secular, ou seja, no baixo crescimento das economias avançadas, e na incapacidade persistente do Banco Central Europeu (BCE) em aumentar a inflação para o nível pretendido, de cerca de 2%.
Surpreende como um problema que durou tanto tempo foi tão depressa esquecido e se passou para o extremo oposto, a de pensar que passámos a um período de inflação alta permanente. Antes de mais convém sublinhar que a persistência de um problema durante dois ou três anos não o transforma em estrutural.
O que se mantém em termos estruturais, apesar da pandemia e da guerra? A debilidade do potencial de crescimento da zona euro.
O que se terá alterado em termos mais permanentes? A União Europeia (UE) terá que alterar a sua utilização de energia, as suas fontes e os seus fornecedores. Este processo de adaptação será provavelmente longo e poderá passar por um aumento generalizado e permanente dos preços da energia. No entanto, passado o período inicial de subida das cotações destas matérias-primas, com a posterior estabilização, não se justifica que haja novas subidas nem a correspondente inflação.
A pandemia também trouxe um aumento generalizado dos níveis de dívida pública na zona euro, subindo de três para seis o número de Estados com dívida acima de 100% do PIB. Isto pode constituir um limite à subida de taxas do BCE, mas não à eficácia da política monetária, já que taxas de referência mais baixas surtirão um impacto semelhante sobre as taxas de longo prazo.
Haverá receio de que o BCE não tenha coragem de fazer tudo o que for necessário para conter a inflação, sobretudo as suas expectativas, incluindo provocar uma recessão? Isto é um risco mas, por enquanto, o que se pode dizer é que o BCE tudo fará para se manter no caminho estreito de conseguir limitar a subida de preços sem gerar uma queda do PIB. Em resumo, a descida da inflação poderá não ser fácil nem rápida, mas deverá ser conseguida num prazo razoável.
Este artigo é publicado no âmbito da rubrica “Barómetro”, do Boletim Económico de Verão do JE, parte integrante da edição impressa de dia 22 de julho.