A invasão da Ucrânia pela Rússia deu uma relevância sem precedentes à necessidade de a Europa reduzir a sua dependência externa de recursos fósseis e matérias-primas. Também o Pacto Ecológico Europeu, que pretende que a Europa alcance a neutralidade climática até 2050, se estabeleceu enquanto política industrial para combater as alterações climáticas, promovendo produtos sustentáveis e circulares, reduzindo o desperdício e aumentando o desempenho energético das empresas e das famílias.
A madeira desempenha um papel central neste ambicioso desafio. É um material renovável, reutilizável e reciclável – que armazena carbono e ajuda a capturar emissões de CO2. Para avançar neste caminho, é preciso que a madeira seja utilizada no quadro de uma economia circular, sendo fundamental que se maximizem as possibilidades de reciclar esta matéria-prima e os produtos que a têm como base.
Neste âmbito, a produção de painéis de aglomerado de partículas (PB) a partir de madeira reciclada é uma prática recorrente a nível mundial, e um dos melhores exemplos de circularidade. A incorporação de madeira reciclada proveniente de outros produtos da cadeia de valor da indústria da madeira, como serrações ou madeira pós-consumo proveniente da indústria do mobiliário, embalagem ou mesmo construção, representa já cerca de 70% da solução final.
Contudo, há ainda muita margem para progredir. Existem outros painéis derivados de madeira, como os painéis de fibra de media densidade (MDF) que, pelas suas características e desempenho técnico, são também amplamente utilizados em mobiliário, design de interiores e construção. No entanto, atualmente, o uso de madeira reciclada nestes painéis representa apenas uma pequena percentagem do potencial de incorporação.
Acredito que este desafio, sendo global, carece de uma resposta à mesma escala –uma responsabilidade partilhada entre empresas, governos e sociedade. O investimento em Investigação e Desenvolvimento bem como uma abordagem colaborativa são fulcrais para encontrar soluções. E é neste enquadramento e com esta visão de futuro que alguns projetos começam já a ganhar forma.
O EcoReFibre, recentemente criado, reúne reputados institutos de investigação, associações, produtores de painéis derivados de madeira e fabricantes de equipamento para a indústria na Europa, e propôs-se, até 2026, a encontrar soluções tecnológicas que permitam substituir até 25% das fibras virgens agora utilizadas para o fabrico destes produtos por fibras recicladas. É ambicioso, mas necessário e urgente. Com um financiamento de 12 milhões de euros por parte da Comissão Europeia, o projeto vai debruçar-se sobre tecnologia, equipamento e processos, e explorar um conceito em cascata para recuperar MDF, e reintegra-lo no processo industrial.
O objetivo é aumentar a matéria-prima disponível, mas também procurar respostas para diminuir o desperdício, permitindo à madeira alcançar o seu pleno potencial: afirmar-se enquanto uma das chaves do jogo no combate às alterações climáticas.