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Vão emergir novos conceitos de mobilidade e de negócio

Os elétricos e a condução autónoma vão fazer surgir novos negócios ou vão potenciar outros que estão a crescer. Vão entrar novos atores na indústria que rapidamente se transformará numa indústria de serviços de mobilidade.
16 Junho 2018, 20h00

Já imaginou um tempo de retoma de energia num carro elétrico para 480 km em apenas 5 minutos? Para os menos atentos essa possibilidade parece remota mas a verdade é que há uma empresa israelita que está a trabalhar para um novo tipo de baterias com esse objetivo.

A tendência de mobilidade no futuro a nível de viaturas passa pelos elétricos e pelos carros eletrificados, ou seja, viaturas que têm dois motores sendo que um deles é elétrico. E a grande questão para o carro elétrico que sempre foi a autonomia e lembremo-nos como – e bem recorda Ricardo Oliveira, diretor na Renault Portugal – ainda há sete anos a mesma autonomia não ia além dos 120 a 150 km reais, temos agora todos os carros a propor – no mínimo – o dobro. A informação é do site Autoclube do ACP e refere que a Store Dot promete carregar cerca de 96 km por minuto, ou seja, praticamente o tempo que se demora a encher o depósito de um carro térmico. Refere-se no mesmo site que atualmente temos baterias com iões de lítio com grafite, algo que não permite o carregamento rápido, mas o sistema FlashBattery tem uma rapidez estonteante pois usa uma combinação de camadas de nanomateriais e compostos orgânicos. Para quando esta revolução? Talvez daqui a três anos.

Mas o momento atual é a da velocidade de carga para gerar a suficiente autonomia e aqui falamos do desenvolvimento dos sistemas de carregamento, com potências superiores. E, depois de se obter mais autonomia e com carregamentos mais rápidos acaba, nas palavras de Ricardo Oliveira, da Renault Portugal, o “principal travão psicológico associado aos automóveis elétricos”.

Mas há outro tema de grande relevo na evolução do setor automóvel. As principais marcas com quem falámos não antecipam que o mercado dos elétricos signifique mais do que 25% do mercado global nos próximos anos. E isto porque as marcas continuam a desenvolver motores com menores emissões, sendo que a grande maioria dos eletrificados está relacionado com os plug-in (híbridos de carregamento externo), ou seja, veículos que mantêm a utilização do motor elétrico durante as primeiras dezenas de km e que podem circular entre os 100 e os 130 km/h e depois passam a um motor de combustão que será a gasolina, mas que também poderá ser os novos diesel. E não podemos deixar de esquecer que mais de 70% das pessoas que trabalham nas grandes cidades e percorrem 40 a 50 km diários, o que significa que a rapidez de carregamento associado a novas autonomias visa ir buscar o consumidor de grandes distâncias e de fim-de-semana. “A rede terá necessariamente de duplicar até final deste ano, alerta António Pereira Joaquim, diretor na Nissan e isto para responder “ao crescimento exponencial das vendas de automóveis elétricos”.

O mesmo gestor deixa o maior desafio do momento: “A capacidade das instituições e empresas para criar as condições legislativas e de mercado para que a rede de carregamento seja capaz de dar resposta às necessidades crescentes do parque circulante de automóveis elétricos”. Na Nissan a bateria de 40kWh irá permitir maiores aumentos de autonomia a partir do início de 2019.

E aqui entra outro tema e que é o custo de kWh adicionado. Diz Pereira Joaquim que para que a mobilidade elétrica seja acessível a todos os consumidores e não apenas a quem tem capacidade financeira, é necessário desenvolver produtos “com cada vez mais tecnologia, mas com custos acessíveis e que se inserem num ecossistema elétrico que vai muito além do próprio automóvel em si, permitindo que este se integre nas infraestruturas e se conecte ao mundo que o rodeia”. Diz Ricardo Thomaz, do grupo SIVA que representa a VW, Audi e Skoda, que o relevante é perceber que “o custo de utilização ao km de um elétrico pode ser cerca de 10 vezes inferior ao de um motor de combustão interna, se tivermos em conta apenas o custo de eletricidade versus o combustível”. Acrescenta Ricardo Thomaz que à medida que o preço da produção de baterias for baixando, o preço dos carros elétricos aproximar-se-á do preço dos veículos “tradicionais”. Claro que ainda existe o tema dos valores residuais e hoje facilmente um topo de gama diesel é bem mais barato do que um topo de gama elétrico, mas o tempo irá inverter essa situação e tal como diz o responsável da SIVA isso acontecerá “quando houver massa crítica de elétricos no mercado”. É corrente afirmar-se entre os profissionais do setor que tem sido relativamente fácil encontrar interessados no mercado de segunda mão para os veículos elétricos da primeira geração e que têm autonomia reduzida. Curiosamente o preço mantém-se elevado para este tipo de carros.

E quanto valerá este mercado? André Silveira, diretor na Daimler/MB Portugal, antecipa 25% das vendas da marca a nível global. João Trincheiras da BMW Portugal prefere não antecipar quotas mas reafirmar aquilo que a BMW Group já o disse: até 2025 o grupo terá dentro da sua oferta cerca de 25 modelos eletrificados.

Informação recente do grupo Toyota dá conta de que o crossover C-HR é o modelo Toyota híbrido em destaque de janeiro a maio de 2018, com um total de 954 unidades vendidas, com aumentos de 78,5% nos cinco primeiros meses do ano.

Futuro na condução autónoma

E qual o futuro que a mobilidade elétrica vai potenciar aos utentes e à sociedade em geral? Esta é a questão colocada em seminários e aos construtores e a toda a indústria que está a montante e a jusante.

Ricardo Thomaz, da SIVA está consciente de que o futuro será elétrico e partilhado e mais tarde chegaremos à autonomia mas, sublinha que “a partilha substituirá uma parte da posse mas o automóvel será sempre objeto de desejo”. André Silveira, da Mercedes, diz que “o conceito de propriedade irá certamente continuar embora com tendência a diminuir” e antecipa que o carsharing será uma realidade crescente dentro dos grandes centros urbanos onde há necessidade de mobilidade mas o espaço de estacionamento e as restrições de entrada em cidades são limitativas. A BMW, através de João Trincheiras, lembra que a marca através da plataforma DriveNow conta – em termos de mobilidade partilhada – com mais de 1 milhão de clientes ativos e com uma frota superior a cinco mil viaturas. A Nissan acredita “na coexistência de diferentes soluções de mobilidade, adaptadas às preferências dos utilizadores, e onde a partilha de veículos poderá ganhar alguma relevância”. Acrescenta o diretor da Nissan que a condução totalmente autónoma e que será uma realidade na marca em 2020 “vem possibilitar soluções de mobilidade, partilhada ou não, a públicos que neste momento não têm essa opção”. Acrescenta que a nova realidade irá contribuir para “um crescimento de vendas e das necessidades de assistência bem como para o surgimento de serviços associados que representarão novas oportunidades de negócio”.

Ricardo Oliveira, da Renault questiona se as evoluções ligadas à mobilidade serão simultâneas em todas as latitudes, diz que “mercados maduros e com maior poder aquisitivo como a Europa, os EUA e o sudoeste asiático irão certamente evoluir mais rapidamente que mercados e países emergentes como a Índia, América do Sul ou África”. A contrariar toda a imagem positiva dos elétricos citamos um texto do Observador e que vai buscar informação a um trabalho do Instituto Fraunhofer. Refere que haverá grandes modificações no aparelho produtivo com os veículos elétricos e isso vai significar a perda de 75 mil empregos na Alemanha no setor automóvel.

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