A EY criou em 2019 a NextWave, uma estratégia orientada para o propósito e ambição de criar valor de longo prazo para clientes, pessoas e sociedade. E tem usado a estratégia para catalisar a sua própria agenda de transformação. Manuel Mota, Climate Change & Sustainability Services Leader da EY, considera fundamental que as organizações invistam na temática e adianta que as PME começam a estar cada vez mais recetivas ao tema. Nesta entrevista, destaca o papel chave que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode desempenhar visando acelerar a transição para uma “economia de baixo carbono, resiliente, eficiente na gestão dos recursos naturais, socialmente justa e inclusiva”.
Qual o nível de familiaridade das empresas portuguesas com os critérios ESG? O que dizem os vossos estudos?
Atualmente em Portugal existem algumas organizações a incorporar aspetos ESG (environmental, social e governance), nas suas estratégias e na forma como se posicionam no mercado – com grande incidência nas grandes organizações-, contudo ainda é comum alguma confusão nos termos associados à sustentabilidade.
De acordo com o nosso mais recente estudo “EY Global Corporate Reporting Survey”, que tem como base um inquérito que analisa a opinião de 1.040 diretores financeiros e outros altos responsáveis financeiros, e de 320 investidores institucionais de todo o mundo, existe ainda um gap entre o entendimento da ação e a divulgação necessária em matéria de sustentabilidade por parte das organizações, face ao que são as expectativas de investidores. Neste documento, é possível perceber que mais de três quartos dos investidores (78%) dizem que as organizações devem investir em melhorias relacionadas com questões ESG, mesmo que afetem os seus lucros a curto prazo, no entanto apenas 55% dos líderes empresariais têm a mesma opinião. O estudo reforça ainda que as organizações continuam muito focadas naquilo que dizem ser a pressão a curto prazo por parte dos investidores, enquanto os investidores defendem não conseguir identificar uma visão clara sobre a estratégia de crescimento a longo prazo das organizações.
Considerando o nosso estudo e o contexto nacional, conseguimos de imediato transpor os resultados para a realidade do mercado português. Porém, face às pressões regulatórias que existem e uma sociedade gradualmente mais exigente, torna-se fundamental que as organizações invistam na proximidade a este tema. Cada vez mais, um grupo alargado de stakeholders esperam a normalização, comparabilidade e consistência nas divulgações de aspetos ESG de uma empresa, como parte do seu relatório corporativo.
O tecido empresarial português maioritariamente composto por PME está recetivo à necessidade desta mudança de paradigma?
Naturalmente, as grandes organizações acabam por estar mais preparadas para antecipar a mudança de paradigma e se adaptarem. No entanto, sentimos que as PME, algumas por força das circunstâncias da sua cadeia de valor e do contexto regulatório, começam a estar cada vez mais recetivas e atentas. Muitas reconhecem que existe uma vantagem competitiva, porém, deparam-se com falta de capacidade interna, seja de recursos humanos, conhecimentos ou disponibilidade financeira, para efetivamente alavancar estes temas na organização.
Em tempos de mudança, as organizações para serem bem-sucedidas, devem identificar as áreas onde existe maior potencial de criação de valor a longo-prazo, e definir a forma de monitorizar o desempenho e demonstrar o impacte dos aspetos ESG, incluindo aspetos intangíveis que até recentemente não eram medidos, comunicados e considerados de forma equiparável ao desempenho financeiro.
Que papel pode desempenhar o PRR no desenvolvimento de uma economia de baixo carbono em Portugal?
Considerando as três dimensões do PRR português – o Plano de Recuperação e Resiliência: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital, bem como, as metas nacionais e internacionais estabelecidas, seja pelo Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 ou pelo Acordo de Paris; Este programa configura a oportunidade de se acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, resiliente, eficiente na gestão dos recursos naturais, socialmente justa e inclusiva. E, onde todas as organizações poderão tornar-se em agentes ativos, recorrendo às linhas de financiamento para transformar os seus negócios, colocando a sustentabilidade no centro e criando valor a longo prazo.
A conjuntura atual marcada pela alta taxa de inflação e a subida dos juros, tem impacto na implementação dos critérios ESG pelas empresas?
O sucesso continua a depender da procura incessante pela criação de valor, pelo crescimento e pela eficiência de custos. A perspetiva de geração de valor a longo-prazo continua a distinguir as organizações líderes.
Apesar da conjuntura atual, que naturalmente impacta as opções estratégicas a vários níveis, as organizações que mantiverem o foco no valor que entregam aos seus stakeholders numa perspetiva de longo prazo, estarão mais capazes no mercado, e criarão, sem dúvida, uma vantagem competitiva; porque há um interesse crescente dos investidores e demais stakeholders no não-financeiro, com a divulgação de informação ambiental, social e de governance a contribuir cada vez mais para a tomada de decisão de investimento ou estabelecimento de relação com determinada organização. A análise dos aspetos ESG vem trazer uma dimensão adicional à revisão e avaliação de organizações e ativos, na medida em que estes aspetos ajudam a identificar novas oportunidades e a gerir riscos de investimento a longo prazo, evitando, em última análise, casos de mau desempenho resultante de práticas ESG pouco sustentadas que são um risco e podem influenciar resultados.
As práticas de sustentabilidade têm estado muito circunscritas à dimensão ambiental, 2023 será o ano em que a componente Social da sustentabilidade vem ao de cima e se torna uma prioridade estratégica para as empresas na Europa e no mundo?
Naturalmente que varia de acordo com maturidade das organizações, há de facto maior foco na componente ambiental da sustentabilidade – talvez pela fácil tangibilização das ações vs resultados, e pela emergência climática decorrente dos eventos extremos a que temos assistido decorrentes do aquecimento global-, mas a relevância da dimensão “Social” tem vindo a ganhar expressão. E sinal de que estamos perante um momento em que a dimensão social vai entrar na agenda das organizações, é a publicação da Taxonomia Social, em fevereiro deste ano.
Qual tem sido o papel da EY para o despertar da nova consciência mundial que se está a construir em torno do paradigma da sustentabilidade?
Na EY, acreditamos que quando as organizações alinham os seus objetivos com os da sociedade são mais valiosas e viáveis a longo prazo. Iniciámos essa jornada em 2018 com o Projeto Embankment for Inclusive Capitalism (EPIC), uma iniciativa que tinha como objetivo redefinir e medir como as organizações criam valor. Em 2019, criámos o NextWave, a nossa estratégia orientada para o propósito e ambição de criar valor de longo prazo para clientes, pessoas e sociedade. Esta estratégia tem sido usada para catalisar a nossa própria agenda de transformação.
A EY tem demonstrado uma forte capacidade de acompanhamento do mercado e atualização face aos temas que afetam as organizações dos vários setores, antecipando desafios e oportunidades para os nossos clientes. E esse é o nosso “modus operandi”. Crescemos em cada um dos nossos clientes e fortalecemos relações de confiança, conferindo-lhes as ferramentas necessárias para que possam criar o máximo valor a longo prazo e dar a melhor resposta ao mercado, garantindo um desenvolvimento sustentável dos seus negócios e promovendo impacte positivo para os seus stakeholders, a sociedade e o ambiente.
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