O primeiro-ministro António Costa deu o mote na sua mensagem de Natal, ao adotar um discurso prudente sobre as expectativas económicas para 2019. De facto, há que ser cauteloso na abordagem ao ano que agora se inicia, tantos são os fatores de incerteza a condicionar a evolução da economia mundial e, consequentemente, da economia portuguesa. Felizmente, Portugal tem evoluído para um modelo de desenvolvimento assente nas exportações e no investimento empresarial. Mas isso deixa o país mais dependente da conjuntura externa, que se apresenta em 2019 plena de riscos.
Desde logo, há em 2019 a elevada probabilidade de se acentuarem os fenómenos que vimos emergir em 2018. Mais populismo político e menos liberalismo económico. Mais conflitos comerciais e menos liberdade aduaneira. Mais turbulência nos mercados e menos capacidade de financiamento. Mais custos com matérias-primas e menos contenção salarial. Mais decisões soberanistas e menos intervenção de organizações multilaterais.
O dado novo de 2019 é a previsível subida das taxas de juro, cujos níveis excecionalmente baixos ajudaram a economia mundial a recuperar do descalabro financeiro pós-crise do subprime. O fim do programa de compra de dívida pelo BCE, o chamado quantitative easing, vai aumentar a pressão sobre as taxas de juro na zona euro. Isto numa altura em que Trump está em conflito com a Reserva Federal (Fed) justamente por causa da subida das taxas de juro e a dívida pública nas potências emergentes cresce vertiginosamente. Tudo aponta, portanto, para um aumento dos custos de financiamento dos países desenvolvidos, que na última década viram as suas dívidas públicas atingirem montantes historicamente elevados.
Uma nova crise de financiamento espreita no horizonte, o que se afigura particularmente grave numa Europa onde as dívidas públicas se encontram, em muitos casos, acima dos 100% do PIB e os países periféricos têm habitualmente dificuldades em se financiarem a custos comportáveis. Poderá daqui nascer um novo abalo para o Euro, cuja reforma tarda em ser posta em prática. É urgente o aprofundamento da União Económica e Monetária, de forma a dotar a UE de mecanismos que lhe garantam estabilidade financeira e crescimento sustentado.
A instabilidade financeira que se avizinha pode também acentuar a tendência para a orientalização da economia mundial, considerando a maior resiliência das potências asiáticas face à turbulência nos mercados de dívida internacionais. Com saldos comerciais favoráveis, reservas cambiais elevadas e superavits orçamentais, os países emergentes e suas empresas estão menos vulneráveis à pressão das taxas de juro.
Resta ao Ocidente reagir reforçando a coordenação entre países e blocos, o que implica maior coesão numa UE em crise existencial e maior abertura de uns EUA tentados pelo isolacionismo.