[weglot_switcher]

2020: O ano da incerteza

A Humanidade no seu todo está efetivamente a lutar contra uma pandemia que representa efetivamente uma ameaça, e encontra-se precisamente a assumir uma reação “fight or flight”, ou seja, lutando diretamente contra o COVID-19 por via do estudo em potenciais vacinas e, por outro lado, procurando fugir do vírus introduzindo confinamentos generalizados e restrições importantes.
11 Novembro 2020, 07h15

No momento em que vos escrevo, assistimos que 2020 trouxe ao Mundo, tal como o conhecemos, uma nova onda de incerteza.

Com efeito, quem poderia imaginar há um ano atrás que a Madeira estaria a declarar fortes restrições no sentido de controlar a pandemia, que Portugal estaria à beira do decretamento de um segundo Estado de Emergência no mesmo ano civil e, por fim, que até as eleições nos Estados Unidos da América (que relembre-se as sondagens das mesmas davam uma vitória a Biden de 10 pontos percentuais) estivesse envolva num grande grau de incerteza que pôs o mundo de calculadora na mão de modo a apurar quais os Estados americanos que poderiam dar a vitória ao vencedor e que se encontra agora na iminência de entrar num imbróglio jurídico com impugnações das eleições em múltiplos estados para o Supremo Tribunal de Justiça americano.

Enfim… Não há volta a dar, 2020 trouxe-nos um contexto de incerteza sem precedentes, em que o que era certo em 2019, deixou de o ser, e que os elementos mais básicos da nossa vida social, profissional e de saúde pública, que dávamos como sendo garantidos, pura e simplesmente, deixaram de o ser. Perante um contexto de incerteza desta magnitude é difícil que os nossos instintos humanos/animais mais básicos não venham ao de cima, num reflexo quase inconsciente de resposta “fight or flight” conforme identificado por Walter Bradford Cannon. Ou seja, o homem da pré-história encontrava-se “programado” para ter de lidar com predadores e lutar pela sua sobrevivência, pelo que perante a materialização de um perigo à sua própria sobrevivência, desencadeava-se uma resposta do seu sistema nervoso que produzia uma descarga de stress no sentido de permitir ao ameaçado responder em formato “fight or flight”, ou seja, ou lutando diretamente contra a ameaça ou fugindo da mesma.

Com as devidas adaptações da pré-história, a Humanidade no seu todo está efetivamente a lutar contra uma pandemia que representa efetivamente uma ameaça, e encontra-se precisamente a assumir uma reação “fight or flight”, ou seja, lutando diretamente contra o COVID-19 por via do estudo em potenciais vacinas e, por outro lado, procurando fugir do vírus introduzindo confinamentos generalizados e restrições importantes.

Não obstante, é um facto que já não vivemos na pré-história, e cada vez mais vão surgindo relatórios que nos dão conta da elevada probabilidade de termos de aceitar a presença do vírus e aprender a viver com ele, tal como o mundo teve de aprender a viver com outras doenças como a malária, o denge, a gripe A e a própria gripe sazonal normal, que relembre-se, só na época gripal 2018/2019 provocaram 3.331 óbitos em Portugal (ou seja, mais de mil do que os óbitos por COVID-19 em Portugal até agora), sem que tivesse existido qualquer alarido mediático.

À medida que o tempo passa, é importante ganharmos consciência que existem protocolos médicos para a COVID-19 que se encontram em prática e que, devido aos mesmos, o número de óbitos por COVID-19 se tem circunscrito a determinadas franjas da população, nomeadamente os mais idosos e com comorbidades associadas, devendo estes ser especialmente protegidos.

Contudo não podemos ignorar que é o nosso próprio modo de vida tal como o conhecemos que está neste momento sob ataque e se a economia de país economicamente tão frágil como Portugal deixar de funcionar, e se relegarmos para segundo plano as doenças não COVID, estamos a caminho de um desastre económico, social e, também de saúde pública, por todos os óbitos que podem ocorrer por ausência ou limitações nos tratamentos a doenças não-COVID-19.

Já o disse em março de 2020 e é importante que todos nós não tenhamos medo de o dizer novamente, apesar de 2020 ser o ano com o maior grau de incerteza de todas as nossas vidas, não nos podemos esquecer que o Mundo não deixou de rodar por causa do COVID-19, vamos ter de continuar a viver, a nossa economia tem de continuar a funcionar e de modo a preservar o nosso modo de vida como o conhecemos, porque como sabem os americanos no “show business”, aconteça o que acontecer “the show must go on!”, ou seja, mesmo perante dificuldades, imprevistos, incertezas e calamidades, sem prejuízo das medidas que têm de ser tomadas, a vida não pára e tem de continuar!

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.