Todos quantos dedicaram algum do seu tempo à compreensão dos fenómenos históricos e ao seu estudo, sabem que nada acontece num só dia, mas sabem também que não podemos viver sem datas, sem marcos, sem fronteiras que, simbolicamente, separam o passado do devir.

24 de fevereiro de 2022 é um desses dias.

Neste dia desmoronou-se a garantia da soberania dos povos sobre os seus estados independentes, desmoronaram-se os princípios do Direito Internacional que, assegurando a independência dos povos, nos permitiram viver décadas de paz, e desmoronou-se ainda uma parte do que a Organização da Nações Unidas representa, desde a sua fundação.

Ao direito parece ter voltado a impor-se a força e a barbárie.

Os europeus tinham quase esquecido a realidade das fronteiras, no exacto momento em que a antiga afirmação de François Mitterrand ganha um dramático e imprevisível sentido: “A história passa onde passa a geografia”.

Frase paradoxal quando a ignorância em ambas as matérias parece fazer parte do curriculum do nosso ensino. Parece que estamos apostados em não nos conhecermos, não conhecermos os territórios em que vivemos e como, com quem e de que forma aqui chegámos.

E neste tempo que parece representar um certo regresso da barbárie, há que destacar que, pelas mãos de Joe Biden e Ursula von der Leyen, a NATO saiu da “morte cerebral” que inconscientemente lhe atribuíram.

É que a União Europeia está mesmo em guerra. Por ela e por tudo o que ela representa como herdeira da “Europa-Farol “que vimos construindo desde o século XVIII.

À morte cerebral sucedeu o momento no qual a “União Europeia vai ter de se assumir como uma entidade geopolítica, com um papel e responsabilidade reforçados na governação global e em relação à sua vizinhança”.

Não, as democraturas não são legítimas e, por isso, não são aceitáveis.

A Europa vai continuar a viver em liberdade e 24 de Fevereiro de 2022 é um marco relevante nessa afirmação.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.