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Três modos de gerar crescimento económico

Muitos bons Economistas têm aberto novos caminhos à Ciência Económica que nos permitem alvitrar com segurança receitas para muitas questões importantes da sociedade que potenciam melhorias generalizadas de bem-estar.
12 Novembro 2019, 07h15

Há muita gente que considera a Economia uma espécie de ficção científica. Contudo, e felizmente, desde o século XVIII que têm surgido obras de grande qualidade que nos permitem concluir que tem havido mais do que um mero bom punhado de bons Economistas ao longo dos últimos séculos.

Desde logo, os historicamente incompreendidos Adam Smith e John Keynes, que muita gente interpreta como opostos, mas que em minha opinião têm ambos obras geniais e que se complementam.

Mais recentemente, muitos bons Economistas têm aberto novos caminhos à Ciência Económica que nos permitem alvitrar com segurança receitas para muitas questões importantes da sociedade que potenciam melhorias generalizadas de bem-estar. Vejamos apenas alguns exemplos:

• Como aliviar a pobreza (Abhijit Banerjee, Amartya Sen e Angus Deaton);

• Como integrar as alterações climáticas no desenvolvimento económico (William Nordhaus); • Qual o impacto da inovação tecnológica no crescimento económico (Paul Romer);

• Qual o impacto de fatores cognitivos e emocionais nas decisões económicas (Richard Thaler e o economista emprestado da Psicologia, Daniel Kahneman).

A obra científica de todos estes, e de muitos outros cientistas económicos, permitiu acumular um conhecimento que nos sugere, entre outras coisas, receitas para geração de crescimento económico. O que pretendo agora é partilhar a minha interpretação, baseada na evidência científica e empírica, sobre os 3 principais modos de gerar crescimento económico.

A primeira receita para geração de crescimento económico no estado atual da economia mundial é, quase que sem qualquer dúvida, a promoção das inovações. As boas inovações, desde as das grandes empresas que dominam mercados até as das start-ups que ainda estão por surgir, impulsionam o crescimento económico de forma singular. As inovações criam empregos de mão-de-obra qualificada, permitindo a transição de uma economia baseada em mão-de-obra barata e pouco qualificada para um patamar superior, incentivando assim a população para maior investimento em si mesmo, isto é, em capital humano, que se traduz em maior aquisição de competências, em mais escolaridade, e em mais formação superior. A promoção da inovação é potenciada se for acompanhada de maiores incentivos ao empreendedorismo, para que todos aqueles que se sentem com vontade de se lançarem em projetos inovadores tenham a sua vida facilitada.

Uma 2.ª receita é encarar o apoio aos desempregados com uma visão mais de reinserção e menos de assistencialismo. Uma ideia que pode ser afinada e trabalhada, a título de exemplo: se os desempregados virem os seus subsídios majorados no caso de aceitarem trabalhar como voluntários numa empresa ou numa instituição sem fins lucrativos, e ainda mais se o seu trabalho for avaliado de forma positiva, isso ajudaria a diminuir a duração do desemprego na medida em que essa experiência proporcionaria aquisição de competências, contactos e referências. Esta é apenas uma simples ideia que, se for integrada numa política geral de mais ativa reinserção e que vá muito para além do que fazem a maioria dos centros de emprego atualmente (com poucas, mas honrosas exceções de bons exemplos) e da política assistencialista da Segurança Social, potenciará uma aproximação ao paradigma japonês de baixo desemprego crónico, com o respetivo aumento de produção de riqueza para a economia e de uma distribuição mais equitativa (e de forma sustentável) dos rendimentos.

Uma 3.ª receita é a construção de um ambiente económico, fiscal e institucional que seja atraente a quem quiser investir e criar emprego. Nesta categoria entra um conjunto heterogéneo e vasto de medidas setoriais que incluem a desburocratização excessiva, a modernização administrativa dos serviços públicos, uma fiscalidade inteligente que não afaste os investimentos que a economia precisa, uma justiça com regras mais claras e com meios que permitam decisões mais rápidas e menos onerosas para as vítimas, e uma política orçamental do Estado que crie confiança. Tarefas fáceis de serem enunciadas e até de serem concretizadas e implementadas, embora exijam muito trabalho. Tarefas que só ficam mais complicadas se não forem gerados os consensos necessários e se os decisores políticos não forem corajosos.

Com certeza que um punhado de outras receitas poderiam ser adicionadas, mas sublinho estas 3 como, porventura, as prioritárias. E os decisores políticos já têm com estas 3 receitas muito trabalho de casa com que se entreterem.

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