Os portugueses estão a aproveitar as primeiras semanas de desconfinamento para regressar às ruas e assim poderem integrar-se na já denominada ‘nova normalidade’. Contudo, terminado o Estado de Emergência os cidadãos nacionais pretendem também reformular as suas habitações na qual viveram 24h sobre 24h nos últimos dois meses.
Um recente estudo da empresa Boutique Research revelou que 55% dos portugueses pretendem fazer obras nas suas residências no período de desconfinamento. Em entrevista ao Jornal Económico, João Carvalho, diretor-geral da Melom, reafirma estas intenções e indica que os alvos das obras são as casas de banho e cozinhas, com os valores médios a rondarem os cinco mil e 10 mil euros e os 10 mil a 20 mil euros.”
Quais os principais motivos que levam os portugueses a querer fazer obras após o período de confinamento?
Devido à Covid-19 e ao estado de emergência, os portugueses viram-se obrigados a ficarem por um longo período de tempo confinados nas suas casas juntamente com as suas famílias. Como é óbvio, isso traduziu-se num desgaste acentuado das casas, mas não só, despertou também um olhar mais profundo nas imperfeições que estas casas têm tanto em termos de estética, como funcionalidade. Outrora problemas como a pintura da casa, fissuras nas paredes, caixilharia antiga, etc., que tinham sido adiados ou mesmo ignorados, foram agora realçados com esta vivência tão exaustiva das casas. Temos por isso a certeza (assim como o estudo da Boutique Research revelou) de que os portugueses vão aproveitar este período pós-confinamento precisamente para melhorarem e aprimorarem as suas casas com pequenas e grandes obras.
Porque razões as cozinhas e casas de banho são as áreas mais escolhidas para estas obras?
As cozinhas e casas de banho são as áreas técnicas de uma casa e por isso aquelas que sofrem mais desgaste ao longo do tempo. São também as zonas da casa que mais rapidamente tendem a estar fora de moda relativamente às novas tendências de design. Além destes motivos, vivemos atualmente tempos excecionais onde a cozinha ganhou um papel fundamental nas famílias, tornando-se o centro da casa neste período que foi de confinamento. De talvez uma ou duas refeições que se faziam em família em casa, passou-se a fazer o dobro, passámos a ter crianças a fazerem os trabalhos de casa nas mesas das cozinhas, enquanto os irmãos estão na sala em telescola. Por tudo isto, e porque são efetivamente duas áreas importantes da casa pela sua especificidade de utilização, as obras de cozinhas e casas de banho tornaram-se uma prioridade para muitos dos portugueses.
Os valores médios despendidos nas obras estão dentro do padrão “normal” do cliente português?
Sim, considerando que as duas maiores fatias do valor médio de obra estão entre os 5-10 mil euros e os 10-20 mil euros. Estes valores estão de acordo com o padrão “normal” do cliente português que se insere na classe média, olhando ao core das nossas obras que passam por reabilitação, pequenas obras e remodelações.
Tendo em conta a crise económica que já está a ser sentida e que se prevê para os próximos tempos, surpreende-vos o facto de os portugueses optarem por gastar dinheiro na remodelação das casas, visto ser sempre um investimento dispendioso?
A ideia de que uma obra é sempre um investimento dispendioso é uma falácia, e a prova disso é a nossa maior fatia de valor médio de obra se encontrar entre os 5-10 mil euros, na sua maioria para remodelações gerais. No entanto, a Covid-19 trouxe novos desafios à população e uma necessidade extra de se adaptar a novos hábitos, um deles será certamente deixar de viajar para o estrangeiro, optando pelo turismo nacional. Neste caso, teremos uma atenção redobrada na reabilitação destes alojamentos, ainda que muitas famílias optem certamente por passar as férias nas casas onde residem habitualmente. A casa perdeu o estatuto de “dormitório” e ganhou um protagonismo e destaque nas nossas vidas, hoje trabalhamos, divertimo-nos, convivemos e dormimos em casa. Acreditamos que depois da Covid-19 o nosso lifestyle será diferente, e provavelmente a casa será o grande centro das nossas vidas. Utilizávamos grande parte do nosso tempo no trabalho e em deslocações e poderá existir uma tendência pós Covid-19, de transportamos para as nossas casas o tempo que estávamos fora. A casa transformou-se no lugar seguro da vida das pessoas e por isso o seu bem mais precioso. Assim sendo, não nos surpreende minimamente que o foco dos portugueses passe agora por investirem na manutenção e reabilitação das suas casas, sejam elas a residência habitual ou secundária.
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