Bodo Ramelow, um político pragmático e uma estrela em ascensão no Die Linke, partido alemão de esquerda também ele em ascensão, foi eleito com maioria simples para presidir ao governo do Estado Federal da Turíngia – que motivou uma profunda crise política no maior partido alemão, a CDU de Angela Merkel.
Até à sua eleição, a região e os partidos regionais passaram por uma verdadeira novela, cujo ponto máximo foi a eleição de um governo liderado pelos liberais com o apoio – ficou por saber-se se previamente conversado ou não – da extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) e da CDU.
Mas este último capítulo da primeira série da novela (é bem possível que a coisa continue) não foi isento de palpitação: a sessão parlamentar abriu esta quarta-feira em ambiente de forte tensão, desde logo porque estava a ser monitorizada em tempo real pelas cúpulas dos principais partidos.
A situação não é, de facto fácil: AfD e Die Linke são os partidos mais votados, num quadro regional em que a CDU havia prometido um cordão sanitário em relação à extrema-direita, mas também, convém não esquecer, à esquerda. A decisão teria que passar pelo centro – mas o centro não tinha força suficiente para o fazer sozinha. O resto da história – até à demissão da mulher que substituiu Angela Merkel à frente dos democratas-cristãos, Annegret Kramp-Karrenbauer – é conhecida.
Quem terá ficado a rir-se de todas estas peripécias ‘centristas’ foi por certo Björn Höcke, o homem que lidera – nos momentos em que não está a negar a existência do Holocausto – a AfD regional, e que desta forma não só criou uma profunda crise num dos seus adversários políticos, como arranjou um bilhete só de ida para o estrelato político nacional.
No meio de todo o drama político, ainda houve tempo para uma comédia social (no sentido em que acabou bem): de repente, soube-se de um caso suspeito de coronavírus sobre um deputado regional da CDU, e o parlamento temeu por algumas horas ter de ficar em quarentena. Já noite, os resultados da análise finalmente chegaram e eram negativos.
Ultrapassado o impasse, o parlamento preparou-se, a suar, para o confronto (nas urnas) entre Ramelow e Höcke. O deputado do Die Linke falhou na primeira votação, falou a segunda e então Höcke decidiu abandonar a corrida. Ramelow foi eleito com 42 votos num total de 85 lugares, com os deputados da CDU a optarem pela abstenção. O deputado do Die Linke governará em minoria até abril de 2021, quando forem organizadas novas eleições regionais.
Passada a crise na Turíngia, segue em direto a crise na CDU – pelo menos até o partido decidir que ira suceder a Annegret Kramp-Karrenbauer.
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