As expetativas sobre o impacto social e a capacidade transformacional da 5ª geração de comunicações móveis, denominada 5G, são tão elevadas que o aparente atraso de Portugal no seu lançamento tem protagonizado discussões acesas durante as últimas semanas.

As divergências entre operadores, reguladores e governos ilustram a importância setorial, política e económica desta tecnologia, que promete instantaneidade nas comunicações sem limites práticos de capacidade. Está principalmente orientada para a troca de dados e informação entre coisas e não entre pessoas, o que tem profundas implicações no planeamento das redes, no volume de investimento necessário e na redistribuição do protagonismo entre os diversos agentes.

Por isso, os recentes desencontros sobre o 5G em Portugal acabam por ser uma reverberação local das tensões geopolíticas entre os EUA e a China, propiciadas pela capacidade redistributiva do poder desta tecnologia e protagonizadas pela Huawei, a empresa mais avançada no desenvolvimento dos equipamentos e que detém 40% das patentes essenciais.

Nessa base, da mesma forma que o 2G foi fundamentalmente europeu graças ao domínio da Nokia e o 3G foi americano e coreano pelo protagonismo da Apple e da Samsung, o 5G será, para desespero de Trump, fundamentalmente chinês, na sequência da preponderância já iniciada com o 4G.

A relevância desta nova tecnologia baseia-se em atributos realmente extraordinários: em relação à geração anterior, o 5G aumenta numa ordem de grandeza a velocidade e a instantaneidade (latência) das comunicações; multiplica em duas ordens de grandeza a densidade de conexões simultâneas e diminui dez vezes o consumo de energia e o custo por unidade de informação transmitida. Conjugada com outras tecnologias disruptivas como a realidade virtual e a inteligência artificial, apresenta um potencial transformacional inaudito e adquire uma nova dimensão política. Nessa base, o 5G é, sem dúvida, o verdadeiro presunto do cardápio tecnológico atual.

Para explorar todas estas capacidades, é preciso ligar os elementos radiantes com fibras óticas, que permitem transportar os fluxos de dados recolhidos e enviados sem limitações. Portugal é hoje um dos países europeus com maior cobertura e densidade de redes de fibra, tanto no âmbito urbano como rural, o que coloca o país numa posição de vantagem para aproveitar o potencial do 5G.  É, de facto, a primeira revolução industrial que acontece com Portugal a ocupar uma posição de liderança numa área chave para o seu aproveitamento.

O universo não se originou com a explosão de um telemóvel, mas estamos a falar de uma tecnologia excecional e de uma oportunidade real de dar um salto qualitativo no desenvolvimento do país. Para isso, será importante não perder energias em pequenas lutas internas que desfoquem o sector e o país dos objetivos coletivos.  E, nessa base, o 5G deverá ocupar um lugar prioritário na agenda económica do novo governo, com um programa ambicioso à altura do potencial do país.