Lembrar e comemorar os dias maiores da memória colectiva dos povos é uma tradição das nossas sociedades.
É verdade que, há poucos anos, nos vimos confrontados com uma vertigem produtivista que entendia que à História dos povos se deveria sobrepor a ideia de que assinalar tais datas com feriados nacionais era um convite ao descanso e à “malandragem”.
Sinal que andaram arredados dos clássicos… se assim não fosse saberiam que para Platão, o ócio era o princípio da Filosofia, (Amor pelo saber, e, particularmente, pela investigação das causas e dos efeitos) em conexão com a verdade e a liberdade, porque só pode dedicar-se à Filosofia quem tem tempo para isso.
É verdade, também, que, demasiadas vezes, as instituições públicas e os cidadãos se esquecem de fazer a pedagogia da História assinalando adequadamente tais datas. Mesmo aqueles que têm a especial obrigação de o fazer em relação a cada caso concreto. Obrigação que assume uma dimensão ôntica neste momento em que o mundo parece voltar a conhecer o confronto entre dois modelos de sociedade.
Um, assente na liberdade individual e colectiva, no respeito e defesa dos direitos humanos e na democracia, e, um outro, que se apresenta como alternativo, ditatorial, autocrático e sobrevalorizador do poder pessoal, fará seguramente sentido pensar que, entre 1961 e 1989, esta mesma divisão, com uma dimensão ideológica hoje inexistente, foi corporizada e teve como símbolo o Muro de Berlim.
Dezenas de quilómetros de “muro”. Dezenas de quilómetros que foram o cadafalso de milhares de cidadãos que “só” queriam ser livres!
É verdade que as nossas sociedades também levantaram novos muros, muros igualmente censuráveis. Mas, muros que não representam a mesma dicotomia entre a liberdade e a opressão.
Urge fazer, de forma inteligente, incessante e mobilizadora a pedagogia da democracia e da liberdade. E urge, também, proclamar que só com liberdade e em liberdade, a dignidade da pessoa humana é preservada.
E é da Europa a primeira responsabilidade de assumir essa missão. A Europa institucional, a Europa das organizações cívicas e políticas, a Europa dos cidadãos. Esta é a mais nobre de todas as missões. A Europa só é o que é hoje porque vivemos o 9 de Novembro de 1989.
Para que a Europa possa continuar a ser o que é hoje, e cada um de nós possa manter o orgulho de ser Europeu, o dia 9 de Novembro tem que passar a ser assinalado, festejado e lembrado em toda a Europa.
Para que a tirania, os gulags, a desconfiança, a discricionariedade, a repressão, o desrespeito pelos direitos humanos nunca mais voltem.
Este seria um bom dia e uma bela causa para unir mulheres e homens livres. Mulheres e homens livres que, na sua diversidade, comungam do querer e do crer que a Luz se sobrepõe às trevas. Sempre!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.