Ao longo do último quarto de século, uma “nova economia” tem vindo a ganhar forma. É muito claro, se bem que ainda difícil de admitir para alguns, que o mundo industrial dos séculos XIX e XX, saído das duas primeiras Revoluções Industriais, não existe mais. Nem nas economias apelidadas de “avançadas”, que conheceram primeiro os efeitos da industrialização, nem, tão pouco, nas economias “emergentes”, que se industrializaram nas décadas finais do século passado, quando teve lugar o fenómeno da deslocalização das unidades fabris. A indústria do séc. XXI não será uma continuação daquela que se consolidou nos dois séculos anteriores e que assentava, em grande medida, em três princípios fundamentais: economias de escala; produção em grandes quantidades, ou seja, “mais do mesmo”; e produção de “séries longas”, com subordinação do homem à máquina.

Se a indústria quer criar valor tem de estar hoje muito mais próxima do destinatário final, flexibilizando os seus produtos e incorporando neles um maior número de serviços. A produção “standardizada” fica reservada ao segmento “low cost”, em que é necessário ser muito grande à escala global.

A “nova economia” é, assim, marcada por uma tendência que vem ocorrendo nas economias avançadas: a perda de peso da indústria transformadora no produto. Mas, ao contrário do que alguns economistas referem, a causa desta redução não resulta em primeira instância da já referida deslocalização da indústria, mas sim da própria transformação daquilo que a economia produz, em que se assiste à passagem de uma economia centrada no fabrico de bens para uma outra em que são actividades imateriais que asseguram o essencial da criação de valor. Esta desmaterialização não significa apenas uma mudança intersectorial, mas introduz um novo relacionamento entre os diferentes sectores que subverte a visão de um ordenamento por camadas sobrepostas, orientadas de montante a jusante da cadeia de valor.

A deslocalização que tem lugar não é, por isso, propriamente a causa mas a consequência, facilitada pela redução do custo nos transportes de longa distância, que tornam mais rentável exportar as unidades fabris do que importar mão-de-obra. Não entender esta situação é um dos pontos preocupantes da actual visão económica americana. Em ambos os casos falamos de deslocalização mas, no primeiro caso, ocorre uma transferência de valor da indústria para os serviços.

Portugal tem de definir estrategicamente o modo de usar as novas tecnologias para tornar mais eficientes e rentáveis as actividades onde possuímos vantagens comparativas que as tecnologias podem potenciar – nomeadamente, eliminando o constrangimento que é o factor distância quando colocado numa perspectiva eurocêntrica e na lógica dos produtos materiais.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.