[weglot_switcher]

“A Aquaterra prevê investir mais de 200 milhões de euros até ao final de 2025”

Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor-geral da Aquaterra – empresa que detém projetos de produção e exploração de abacates e citrinos em Alcácer do Sal – explicou o racional por detrás do investimento, reformulado face à ideia inicial e que aguarda um parecer final positivo da CCDR–Alentejo.
1 Julho 2024, 07h30

Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor-geral da Aquaterra – empresa que detém projetos de produção e exploração de abacates e citrinos em Alcácer do Sal – explicou o racional por detrás do investimento, reformulado face à ideia inicial e que aguarda um parecer final positivo da CCDR–Alentejo. A produção da pêra-abacate naquela região (que inclui a zona da Comporta) tem merecido críticas de várias entidades ambientalistas, mas Fernando Infante da Câmara defende a “componente de sustentabilidade” do projeto da Aquaterra, bem como o benefício económico para a região e para o país. Até 2032, diz, o impacto económico dos projectos da empresa ascendem a 485 milhões de euros. E a criação de 1.500 postos de trabalho.

O projeto de produção de pera-abacate da Expoente Frugal nas herdades de Murta e Monte Novo foi reformulado, com uma redução das áreas, com vista a uma aprovação por parte da CCDR do Alentejo. Em que consiste a reformulação do projeto e que consequências tem para o modelo de negócio da Expoente Frugal?
No Grupo Aquaterra consideramos que o projeto inicial tinha viabilidade ambiental e se caraterizava por uma gestão cuidadosa dos recursos hídricos e conservação da biodiversidadeMas a autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental entendeu sugerir ao Grupo Aquaterra que apresentasse medidas adicionais ao Projeto Agroflorestal das Herdades da Murta e Monte NovoDepois de reunirmos com as várias entidades que compõem a Comissão de Avaliação, refletimos e optámos por apresentar um projeto que, com medidas adicionais de prevenção, mitigação e compensação ambientais, responde mais claramente às preocupações levantadas pela autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental.

E o que resultou dessa reflexão?
Fizemos várias melhorias ao projeto, incluindo a redução em 10% da área agrícola, para 658,44 hectares (ha), ou seja, 27% do total da propriedade. Aumentámos as descontinuidades e corredores entre setores de plantação, que são agora 122,58 ha, e mantivemos a área florestal a conservar e valorizar, que é de 1.226,52 ha. Eliminámos dois furos de captação de água, cinco reservatórios de combustível e, por sugestão do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, o centro interpretativo. Relocalizámos o armazém agrícola e os alojamentos dos trabalhadores para a cidade de Alcácer do Sal e ainda fizemos uma série de propostas adicionais, de valorização de espécies autóctones e plantação de espécies caraterísticas, e de criação de um banco de sementes e de locais de alimentação e refúgio para aves, entre outras. Estamos muito orgulhosos pelo trabalho que fizemos e não duvidamos que reúne todas as condições para merecer um parecer positivo. Consideramos importante recordar que, a primeira versão do processo submetida a Avaliação de Impacte Ambiental, já havia sido elaborada com a colaboração de especialistas em várias áreas fulcrais para o desenvolvimento sustentável do projeto: especialistas em ecologia, biodiversidade, conservação dos recursos hídricos e da paisagem, entre outros.

O que significa, em termos de investimento, um eventual “não” desta entidade?
Estamos confiantes da viabilidade deste projeto. Não só pelas suas qualidades e pelas melhorias que referi, mas também pelo impacto económico que estimamos. Temos previsto, até ao final de 2025, um investimento de mais de 200 milhões de euros no País. E estimamos, até 2032, contribuir com mais de 485 milhões de euros para a economia nacional. O projeto vai ter um impacto positivo muito significativo no desenvolvimento social e económico local, em Alcácer do Sal, também com a criação de uma central de calibragem, processamento e embalamento, não só para a produção da Aquaterra, mas também de outros produtores nacionais. Pelos nossos cálculos, o contributo para a economia local será de mais de 170 milhões de euros, com a criação de 1.500 postos de trabalho, acompanhados de uma política laboral e habitacional muito rigorosa.

Que próximos passos daria a Expoente Frugal, ou o grupo Aquaterra, nessa eventualidade?
Não trabalhamos nesse cenário. O projeto que temos em mãos é viável e é importante para a economia portuguesa e europeia, e para a redução da pegada carbónica associada ao abacate. A Europa importa 83% do seu consumo de abacate, em especial da América do Sul. Existe procura, existe necessidade. Estamos a criar oferta, com uma resposta responsável e sustentável, que de forma nenhuma coloca em causa os recursos da região, e que traz para o País e para a Europa recursos e tecnologias que garantem uma cadeia alimentar muito mais amiga do planeta do que a que temos agora.

A Sociedade Portuguesa de Botânica, num artigo no Público, considera que a “densificação agrícola” naquela região ameaça recursos hídricos subterrâneos e várias espécies de fauna e flora. Esta visão corresponde ao que pensam os especialistas da Expoente Frugal?
Concordamos que a densificação agrícola, em qualquer região, traz pressões acrescidas sobre os recursos hídricos e a biodiversidade. É uma preocupação que também temos e acautelámos. Por isso mesmo, desenvolvemos um projeto com uma enorme componente de sustentabilidade, onde a área agrícola é de apenas 27% do total da propriedade, sendo outros 10% corredores e descontinuidades entre plantações. Estamos a trabalhar num território que conhecemos bem, que estudámos de forma meticulosa e abrangente, com peritos e académicos nacionais, que nos ajudaram a estruturar o projeto de forma a assegurar a integridade do território e a sustentabilidade ambiental e social dos projetos. Estamos a adotar sistemas avançados, com tecnologia de ponta, de monitorização do solo e do clima, e de gestão de irrigação precisa. Temos um sistema de monitorização da saúde das colheitas, com drones que captam imagens de alta resolução, um sistema de gestão agrícola com estações meteorológicas e sondas de solo e sistemas integrados de irrigação e fertilização de precisão, e estamos a trabalhar para conseguirmos o mix certo de água, ao recorrer não só a recursos hídricos subterrâneos, como também superficiais e a águas tratadas de ETAR e sistemas públicos de abastecimento. Mais do que preocupados, estamos ocupados a trabalhar por um projeto sustentável para a região e para o País.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.