Foi fácil escolher o restaurante para o almoço com Luís Mira Amaral. Embora ele tenha opiniões decididas sobre os mais variados assuntos, a escolha do sítio não o preocupou nem um segundo. Sugeri o Piazza Sicilia, ali ao pé da Praça da Alegria, em Lisboa, o restaurante do chef Michele Bono, que depois de levar o Gattopardo até ao zénite do paladar italiano – atraindo não apenas quem queria ser visto, mas também os que sabem o que é uma massa al dente e não confundem foccacia com um miserável pedaço de pão untado com azeite – tem, massa a massa, prato a prato, levando o Piazza Sicilia ao lugar cimeiro para os garfos italianos. Michele Bono sabe do ofício como poucos em Lisboa, mas não julgo que isso tenha excitado nem um pouco Mira Amaral.
O antigo ministro da Indústria é uma rara combinação entre engenheiro e economista. Depois do serviço militar em Moçambique, em plena guerra colonial, regressou a Lisboa, foi para a EDP e depressa percebeu que as duas formas de pensamento eram não apenas complementares como tinham-lhe aberto uma nova forma de olhar para o país. Não seria um magnífico prato de ravioli de abóbora – como entrada, uma estupenda salada de porcini frescos com lascas de parmesão – que o faria desviar-se do assunto em que está vidrado, quase obcecado – na realidade, a palavra mais correta será preocupado, porque Mira Amaral não está a ver uma saída evidente para este “aparente bem-estar” que Portugal atravessa.
“O dinheiro chega de Bruxelas, o turismo ajuda, ajuda muito. Temos alguns indústrias, passámos a exportar mais e a ter algum cuidado com as contas públicas. E isso parece ser o suficiente para a classe política e até para a maior parte dos portugueses”, diz, enquanto dá um gole de água com gás, lavada de gelo ou limão. O vinho foi imediatamente recusado. Talvez seja da idade, Mira Amaral faz 79 anos a 4 de dezembro, embora física e intelectualmente não pareça. Poderia facilmente ter menos 15 anos, embora isso hoje não o levasse a aceitar qualquer cargo político. Esse tempo já passou e o engenheiro-economista – conhecido por algum mau feitio – gosta mais de ocupar o espaço público com o seu olhar sobre Portugal e as suas fragilidades.
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