Tornar as pequenas empresas em médias, as médias em grandes e as grandes em multinacionais à escala europeia e mundial deve ser um dos desígnios nacionais.
As micro e pequenas empresas, até 50 trabalhadores, têm um papel fundamental em qualquer economia, pela diversidade e flexibilidade que aportam na resposta às procuras espalhadas pelos territórios e pela proximidade aos clientes. A esmagadora maioria das empresas ativas em qualquer país são de micro e pequena dimensão, mas o peso do valor acrescentado bruto (VAB) que geram varia de país para país.
Em 2019, cerca de 95% das empresas em Portugal tinham menos de 10 trabalhadores e outros 4% tinham entre 10 e 49 trabalhadores, valores próximos da UE27 (93% e 6%, respetivamente). No entanto, o VAB gerado pelas médias e grandes empresas em Portugal não vai além de 52% do total, enquanto na UE27 supera os 64%. Esta característica do tecido empresarial português torna-se preocupante do ponto de vista da produtividade das empresas, na medida em que a produtividade aumenta com o crescimento orgânico da empresa. Em Portugal, em 2019, a produtividade aparente do trabalho nas microempresas foi de 15 mil euros, nas pequenas de 27 mil euros, nas médias de 34 mil euros e nas grandes de 36 mil euros. Isto significa que o potencial de crescimento económico e produtividade subjacente ao crescimento e consolidação empresarial em Portugal é significativo.
O aumento da produtividade com o crescimento das empresas é explicado por diversos fatores. À medida que as empresas crescem, aumenta a sua capacidade para atrair talento mais qualificado; a estrutura de governance torna-se mais clara, permitindo reduzir os níveis de risco de fraude ou de má gestão; aumenta a capacidade para gerir inovação e, principalmente, de criar e valorizar direitos de propriedade intelectual gerados pelas atividades de inovação; aumenta a obtenção de economia de escala e de gama, que permitem otimizar custos operacionais e responder nos mercados internacionais com preços competitivos; aumenta a longevidade da empresa; aumentam os efeitos de arrastamento na economia nacional, especialmente nos casos de empresas com vocação internacional e sustentadas numa cadeia de fornecimentos em que o grau de incorporação nacional é significativo.
Os efeitos elencados permitem dar resposta a vários outros desafios estruturais do tecido empresarial português. Em primeiro lugar, após ter trilhado uma trajetória virtuosa que permitiu promover um investimento crescente das atividades de I&D empresarial, Portugal precisa que aumentar a capacidade de valorização desse conhecimento. Em segundo lugar, Portugal tem que ganhar quota nos mercados internacionais, sobretudo em setores mais intensivos em tecnologia e conhecimento, um processo exigente que exigem esforço de investimento geralmente ao alcance apenas a empresas de uma certa dimensão (apenas 13% das pequenas empresas tem uma orientação exportadora superior a 25%, mas mais de 30% das médias e grandes empresas supera esse patamar). Em terceiro lugar, Portugal precisa de conseguir reter e atrair talento qualificado através da oferta de condições de trabalho atrativas (incluindo salários). O salário médio nas médias empresas em Portugal é 20% superior face às pequenas empresas, sendo ligeiramente superior nas grandes empresas. Em quarto lugar, as empresas portuguesas têm que aumentar a sua robustez financeira através de uma maior capacidade de diversificação das fontes de financiamento e de uma maior capitalização. Apesar do progresso desde 2014, cerca de 28% das microempresas tem capitais próprios negativos, 9,4% no caso das pequenas empresas, 6,8% no caso das médias empresas e 5% no caso das grandes empresas.
Por outro lado, as médias e grandes empresas nacionais são mais pequenas do que a média da UE27 e essa discrepância sente-se principalmente no segmento das grandes empresas, pois, em média, uma grande empresa portuguesa tem 835 trabalhadores, enquanto a empresa média da UE27 possui 1.134.
É, por isso, imperativo criar condições para o crescimento das pequenas e médias empresas, para que elas possam ganhar competitividade internacional, mas também promover o crescimento das grandes empresas, seja por vias não orgânicas, designadamente através de fusões e aquisições, ou pela via orgânica, através da entrada em novos mercados internacionais ou da criação de novas áreas de negócio.
Não existe uma resposta milagrosa para estes desafios, mas sabemos que algumas receitas têm maior probabilidade de sucesso.
Do lado das empresas, é essencial criar espaço para a realização de exercícios de foresight estratégico que lhes permita responder de forma mais efetiva às tendências de futuro, estar nos mercados onde o potencial de crescimento e de valor são superiores e otimizar a sua estrutura de financiamento, através, por exemplo, da captação de incentivos financeiros à inovação e qualificação.
Do lado da eficiência coletiva, é essencial fortalecer as iniciativas setoriais, territoriais e/ou temáticas, ou iniciativas de cooperação empresarial que atuem de forma efetiva sobre os desafios do crescimento económico, através da conjugação de esforços e propostas de ideias para a criação de um ambiente de negócios que facilite o crescimento empresarial.
Do lado da política pública, é fulcral manter uma política de competitividade e inovação robusta e não discriminatória para com as grandes empresas, através de instrumentos que promovam a interação entre empresas e as entidades do sistema de inovação e entre as grandes empresas e as PME, da disponibilização de linhas de financiamento de dívida e de capitalização e da competitividade fiscal.