Como noticiou este mesmo jornal, a reunião do Fórum Económico Mundial que agora terminou em Davos teve este ano, como mote, o conceito de “Cooperação num mundo fragmentado”. Uma escolha apropriada e certeira, tendo em conta que a cooperação é não só um conceito chave para enfrentarmos com soluções concretas os problemas que nos assolam, como a única forma de reunirmos recursos materiais e humanos numa lógica transnacional que permita fazer face à dimensão desses mesmos problemas.

Em Portugal, na qualidade de Grão-Mestre da Maçonaria Regular, defendi publicamente ao longo dos últimos anos algumas das medidas que diversos responsáveis mundiais agora sublinharam em Davos, tendo inclusive apontado 2023 como “O ano da solidariedade”.

Num cenário que já foi designado como de “policrise”, um neologismo que define bem a simultaneidade dos efeitos socioeconomicamente negativos gerados pela guerra na Ucrânia, a crise energética, a inflação e ainda os efeitos da pandemia da covid-19 na China com o que isso significa para o resto do mundo, entende a Maçonaria Regular que só uma lógica de solidariedade possibilitará contrariar as consequências da recessão que se afigura como cada vez mais próxima.

Do mesmo modo, já vem de trás a minha preocupação com os efeitos das alterações climáticas. Ainda recentemente, em artigo publicado num outro jornal, destaquei por ocasião da COP 27 a indispensabilidade de ações concretas no sentido de serem corrigidas as assimetrias existentes e minorados os efeitos negativos a nível climático.

Precisamente para esse efeito, foi reativada muito recentemente a Confederação Maçónica da Língua Portuguesa – CMLP, a qual pretendemos que venha a tornar-se um fórum privilegiado de diálogo e – lá está – de concertação de iniciativas, para que no âmbito da lusofonia maçónica possamos ir ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável identificados pelas Nações Unidas na Agenda 2030.

Agora em Davos, a presidente da Comissão Europeia foi bem explícita no seu discurso sobre o plano da Europa no âmbito da sustentabilidade. Como disse Ursula von der Leyen, o caminho para as emissões zero será “a maior transformação dos nossos tempos” e isso implica ter como um dos pilares uma política industrial robusta, com a canalização de fundos para as indústrias verdes. Mas não sejamos demasiado ingénuos; para isso acontecer de forma verdadeiramente virtuosa, será obrigatório combater e denunciar de forma inequívoca as más práticas do greenwashing e averiguar a veracidade dos factos para além das cortinas de fumo do jargão corporativo, infelizmente cada vez mais disseminado no que toca à sustentabilidade.

Recentemente, num artigo do CEO da CO2 GRO Inc. na revista “Forbes”, John Archibald colocava o dedo na ferida afirmando que “Algumas organizações usam táticas de marketing para espelhar consciência ambiental com impacto quando a realidade está longe disso. O ceticismo está a crescer porque há falta de provas de conceito e de entrega de resultados”. E se, tal como disse, o greenwashing é mau para as pessoas, para o planeta e para a nossa prosperidade coletiva, então evidentemente as entidades reguladoras a nível nacional, europeu e mundial, devem reforçar o seu papel de supervisão e separar cada vez melhor o trigo do joio, para que não sejam recompensados aqueles que apenas falam, e sim aqueles que verdadeiramente agem.

Como salientou também António Guterres no seu contundente discurso em Davos: “As referências e os critérios costumam ser duvidosos ou obscuros. Isso engana consumidores, investidores e reguladores com falsas narrativas. Alimenta uma cultura de desinformação e confusão sobre o clima. E deixa a porta aberta para o greenwashing”.

Para os maçons regulares, o caminho a seguir é claro: ele assenta em ações concretas, orientadas pela ética e sempre empenhadas em auxiliar quem mais necessita através da solidariedade e da cooperação. O tempo de agir de forma egoísta tem de acabar, inevitavelmente. Caso contrário, é o planeta que acaba. E a Humanidade com ele.