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Corrida à Engenharia Aeroespacial tem razões que a razão conhece

O êxito da empresa de drones Tekever e o investimento da Airbus em Santo Tirso não são alheios à corrida por um lugar para estudar Engenharia Aeronáutica em Portugal. A segunda fase do Concurso Nacional de Acesso ao ensino superior arranca esta segunda-feira com 4996 vagas. Nenhuma nesta área, que regista quatro das 10 notas mais elevadas de colocação na primeira fase. Veja aqui onde estão os lugares que vão agora a concurso.
26 Agosto 2024, 07h30

Com 4.996 vagas, arranca esta segunda-feira, 26 de agosto, a segunda fase do Concurso Nacional de Acesso ao ensino superior para o ano letivo 2024/2025. São as sobras da primeira fase, cujos resultados foram divulgados neste domingo e na qual participaram 58.301 candidatos, menos 1,3% do que no ano passado, com a esmagadora maioria (85,7%) a conseguir vaga.

Veja aqui o número de alunos colocados, dos quais cerca de 20 mil no subsistema politécnico, as instituições e as notas, bem como as vagas a concurso na segunda fase aqui.

No ISCTE, a lotação está esgotada, tal como nas Escolas de Enfermagem do Porto, Coimbra e Lisboa. Vários cursos também ostentam a tabuleta na porta. Engenharia Aeroespacial é o exemplo por excelência. As perto de duas centenas e meia de vagas, o maior número de sempre posto a concurso pelas quatro universidades que oferecem esta formação, voaram. Literalmente. 

A Universidade do Porto estreia este ano Engenharia Aeroespacial, com 30 vagas e, surpreendentemente ou não, obtém a nota mais alta entre os mais de mil cursos a concurso: 19,45 valores foi a média apresentada pelo último colocado na FEUP. Escassas décimas menos (19,14) regista o último aluno a ingressar no curso com o mesmo nome na Universidade do Minho, que o ano passado liderou a tabela nacional com 18,86 valores. São os dois únicos cursos, embora num total de 60 vagas, em que todos os estudantes entraram com mais de 19 valores.

Com menos uns “pozinhos” (18,73 valores para o último colocado) encontramos Engenharia Aeroespacial (quinta nota mais alta na tabela) do Instituto Superior Técnico. Pioneiro em Portugal, e durante anos a fio o único curso existente nesta área, liderou no passado, por diversas vezes, a captação dos melhores desempenhos do secundário.

O quarto curso da especialidade é ministrado na Universidade de Aveiro e também ele integra o top 10 dos mais atrativos: o último colocado teve 18,38.

Quanto mais cursos, maior a procura e mais altas as altas. Definitivamente, a Engenharia Aeroespacial está na moda, mas estes dados demonstram algo mais. Pragmatismo e conhecimento da parte dos candidatos em relação a uma área de especialidade em que Portugal já aparece no mapa, oferece trabalho altamente qualificado e bem remunerado. Exemplos:

A Tekever, conhecida pelos seus drones que operam na Ucrânia, foi criada por antigos alunos de Engenharia Aeroespacial do Técnico: Pedro Sinogas, Ricardo Mendes e Vítor Cristina. O curso serviu de berço a outras empresas, como a Lusospace, Omnidea, Spinworks, e UAVision. Mais recentemente,c foi a Airbus a dar o impulso. Em setembro de 2022, a fabricante aeronáutica inaugurou uma fábrica em Santo Tirso, onde faz montagem e fuselagem de aeronaves da família A320 e A350 e que está a crescer a um ritmo acelerado.

Em grande medida, para trabalhar nesta indústria, os portugueses já não precisam de se mudar para Toulouse ou Hamburgo, onde se localizam os dois grandes centros mundiais da Airbus. Os candidatos sabem isso e os decisores da academia também.

A nova licenciatura em Engenharia Aeroespacial da Universidade do Porto, financiada pelos fundos do programa Next Generation EU do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), através do Programa de Formação Multidisciplinar da U.Porto – Impulso Jovens STEAM & Impulso Adultos, conta com um corpo docente ligado os principais Laboratórios Associados que desenvolvem atividades de investigação, inovação e apoio a políticas públicas no sector da indústria aeroespacial (LAETA, ARISE e INESC-TEC), com experiência adquirida nas melhores escolas de Engenharia Aeroespacial da Europa e EUA (Imperial College, Stanford, MIT, Berkeley). E uma ligação à Airbus. Este domingo, ao comentar o desempenho da Universidade do Porto no concurso deste ano, o reitor, António Sousa Pereira, referiu vários aspetos, entre os quais, “a parceria com a Airbus”, a qual, destacou, “está na base da capacidade de atração de talento académico que a licenciatura em Engenharia Aeronáutica representa”.

A Medicina é outra área interessante de análise. No ano com maior número de vagas de sempre, até porque estreava um novo curso, não resta uma para amostra. Também aqui a lotação está esgotada. Estão colocados 1661 estudantes nos 10 cursos de Medicina existentes em Portugal – Porto (Faculdade de Medicina e ICBAS), Lisboa (Universidade de Lisboa e NOVA), Universidade de Coimbra, Universidade do Minho, Universidade de Aveiro, Universidade da Beira Interior, Universidade dos Açores e Universidade da Madeira.

Durante anos, a Medicina desnatou as Engenharias em relação às médias do secundário, mas o equilíbrio tem vindo a ser reposto. Na lista da dezena de cursos com notas de entrada mais altas nesta primeira fase do concurso figuram três cursos de Medicina e no grupo dos 23 cursos com média acima de 18 valores estão cinco.

O curso do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar regista a nota de entrada mais alta (18,55 valores), ligeiramente acima dos 18,48 valores do curso da Faculdade de Medicina na Universidade do Porto. O Curso Básico de Medicina da Universidade dos Açores, onde entraram 50 estudantes, tem a nota mais baixa: 17,65 valores. A Faculdade de Medicina que maior número de estudantes recebe – 302 – é a da Universidade de Lisboa.

Os dados do Concurso Nacional de Acesso para o ano letivo de 2024/2025, divulgados este domingo pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação, mostram que, dos 1119 cursos que foram a jogo, 815 exibem a tabuleta da lotação esgotada nesta primeira fase, o equivalente a 72% do total. Na corrida há ainda 16 cursos que disponibilizam mais de 40 lugares cada para a próxima fase. Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Bragança, no de Castelo Branco, no da Guarda e no de Beja é talvez o melhor exemplo.

Há também três dezenas de cursos que ficaram desertos: aproximadamente um terço são do Instituto Politécnico de Bragança, instituição a ficar com mais vagas sobrantes: 975. O Politécnico da Guarda fica com 511 alunos colocados e esgota cinco cursos.

Vagas sobrante em cinco áreas de estudo:

  • Engenharias e Técnicas Afins: 1702
  • Agricultura, Silvicultura e Pescas: 429
  • Ciências Empresariais: 378
  • Informática: 346
  • Arquitetura e Construção: 316

Veja aqui quais são as vagas disponíveis nesta segunda fase e as instituições que as ministram.

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