A última semana mostrou que está acesa a luta entre partidos populistas pelo terceiro lugar no pódio partidário português. Com o ouro e a prata entregues ao PS e ao PSD e o CDS-PP a esvair-se socialmente, os três principais partidos populistas lutam pelo bronze na esperança de que o metal se venha a transformar em ouro, ainda que de poucos quilates.
Assim, o Bloco de Esquerda fez questão de se antecipar a uma possível candidatura presidencial da área do PS, apesar do apoio manifestado publicamente por António Costa à recandidatura do atual Presidente, e anunciou que Marisa Matias voltaria a ser a sua escolha para enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa. Um déjà vu que também faz parte da estratégia para avisar o primeiro-ministro de que o BE tem agenda própria e, como tal, não vale a pena acenar-lhe com o fantasma de uma crise política na eventualidade de os bloquistas não aprovarem o Orçamento. Catarina Martins sabe que as sondagens não apontam para a maioria absoluta do PS e que António Costa não se imagina, por enquanto, longe de São Bento.
Entretanto, o Chega reelegeu como presidente André Ventura que, à boa maneira populista, tinha inventado uma crise em nome da contestação interna como razão para se demitir, mas tendo a certeza de que viria a sair em ombros quando os militantes fossem chamados a novo ato eleitoral. Daí os 99,1% alcançados. Uma percentagem a fazer lembrar os resultados das eleições noutros ‘paraísos’ populistas, tanto naqueles em que o populismo recorre a elementos ideológicos do nacionalismo como noutros em que o socialismo serve de bengala ideológica na articulação do discurso.
Quanto ao PCP, depois de o seu braço sindical ter obtido autorização para comemorar o 1.º de Maio na Fonte Luminosa, desafiou a pandemia e a DGS e levou avante a festa com essa designação. Uma forma de dar sinal de vida e de tirar proveito da vitimização. O PCP sabe que a festa lhe garante um mediatismo que a atividade política já não lhe consegue proporcionar. As décadas passadas após o 25 de Abril têm contribuído para desvalorizar o ativo decorrente da difícil luta clandestina de um partido cuja ortodoxia procede como se não tivesse ocorrido a implosão do Bloco de Leste. Por isso, nesta corrida populista, o PCP revela dificuldades crescentes em manter-se no pelotão. O quinto lugar representa uma certeza com reduzida – para não dizer nula – margem de progressão. A inevitável, porque habitual, candidatura própria a Belém não representará mais do que estratégia para ter direito a alguns minutos de antena.
Face ao exposto, a corrida pelo pódio populista está reduzida ao Bloco de Esquerda e ao Chega, com o primeiro a lutar para integrar uma coligação de Governo, a exemplo do Podemos em Espanha, e o segundo a tentar que a mescla do populismo antissistema e cultural ou identitário lhe garanta uma transversalidade social e não apenas um nicho eleitoral conotado com a extrema-direita. Desideratos possíveis, embora o segundo se afigure mais provável.
Mesmo sabendo que a eleição presidencial obedece ao lema “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”, pois Marcelo permanecerá em Belém, os resultados de André Ventura e Marisa Matias servirão de indicador sobre qual a modalidade de populismo preferida pelos portugueses que deixaram de se rever nos dois partidos da mainstream.