Todos os dias, por detrás do espelho da propaganda e das manobras de distração por parte deste governo socialista, nos vão chegando progressivos sinais reveladores da tempestade perfeita que se avizinha sem que se vislumbrem medidas concretas, que permitam antecipar e anular os efeitos negativos desse mesmo temporal.

Há poucos dias, o think tank europeu Bruegel, especializado em Economia, divulgou um estudo da responsabilidade de três investigadoras que deve constituir um verdadeiro alerta, sobre a fragilidade financeira das famílias europeias na época da Covid-19. De acordo com os resultados obtidos por Maria Demertzis, Marta Domínguez-Jiménez e Annamaria Lusardi, metade das famílias portuguesas tem poupanças para apenas cinco meses de aquisição de bens e serviços básicos, como alimentação e energia. E um em cada três domicílios da UE já é incapaz de enfrentar um choque inesperado durante tempos normais, quanto mais durante uma pandemia como esta.

Se pensarmos nos efeitos que a inevitável vaga de despedimentos pelas empresas terá no orçamento das famílias após terminar o efeito do lay-off, tudo isto é ainda mais preocupante e coloca na base do problema a questão da desigualdade social, à qual sou particularmente sensível como democrata-cristão. Tal como sabemos, são os mais vulneráveis e aqueles nas margens do mercado de trabalho a ser despedidos primeiro numa recessão e a ser contratados por último quando a economia recupera, como salientou Martin Sandbu no ’Financial Times’, no seu artigo “The everyone economy”.

Este diagnóstico da realidade incorpora também o cenário pessimista apresentado nas Projeções de Verão da Comissão Europeia, que reviu esta semana em baixa o comportamento antecipado para a economia portuguesa em 2020. A recessão agora perspetivada de 9,8% para Portugal é muito superior aos 6,8% repetidos pelo Governo socialista e pelo novo ministro das Finanças, a propósito do Orçamento Suplementar do Estado. E acima dos 8,7% de queda estimada para o conjunto da Zona Euro.

Todos estes números são, obviamente, arriscados porque podem vir a ser ainda piores. Eles decorrem da opção de considerar que não haverá uma segunda vaga de confinamentos e que o pior já passou no que toca aos contágios e à pandemia. Esperemos que sim, para o bem de todos nós. Mas o pensamento positivo não pode nem deve escamotear a “nudez crua da verdade”, de que nos falava Eça, sob “o manto diáfano da fantasia”.

Os tempos que virão obrigam-nos, se quisermos sobreviver ao impacto recessivo que está por vir, a um trabalho de lucidez criativa. Exigem-nos que olhemos para a realidade circundante com a objetividade indispensável para uma ‘polaroid’ que auxilie verdadeiramente ao diagnóstico e permita criar soluções e medidas eficazes. Caso contrário, será como tentar matar um vírus com antibióticos. E, como sabemos, isso de nada nos serviria.