As últimas semanas têm sido marcadas por uma grande instabilidade no mercado cambial. O caso mais noticiado pela comunicação social foi o da lira turca que sofreu, durante o mês de agosto, uma desvalorização de 19% em apenas uma sessão, face ao dólar americano. A desvalorização face às moedas fortes já vinha acontecendo gradualmente nos últimos anos, tendo sido também acompanhada por um aumento do preço das obrigações turcas e descida do preço das ações.

Esta situação acabou por contribuir para desvalorizações noutras moedas de ‘mercados emergentes’ como é o caso do peso argentino, do peso mexicano ou do rand sul-africano e também para a instabilidade no setor bancário, com alguns bancos com maior exposição a ativos turcos a sofrer quebras acentuadas.

Analisando a economia turca verifica-se que, apesar de ter registado uma taxa de crescimento do PIB de 7,4% no ano passado, segundo o Fundo Monetário Internacional este crescimento está a ser influenciado pelo crédito barato e é muito superior ao do PIB potencial que, de acordo com essas fontes, deveria ser de apenas 4%. Os custos deste forte crescimento têm sido claros. O principal é um aumento forte da taxa de inflação, que atingiu os 11,9% em 2017 e perto de 16% em julho do presente ano.

Estas elevadas taxas de inflação contribuem para a degradação do poder de compra dos turcos e geram receios sobre uma possível espiral hiperinflacionista, principalmente porque aquelas não foram acompanhadas por um aumento nas taxas de juro. A dívida externa do país também tem crescido de maneira alarmante, ultrapassando este ano os 450 mil milhões de dólares. Também não foi do agrado dos investidores o facto do ministro das Finanças e do Tesouro da Turquia, escolhido para o novo governo que tomou posse este verão, ser o genro do Presidente Erdogan.

Fatores externos também levaram a este desenrolar dos acontecimentos, como o anúncio por parte do presidente Donald Trump de que os EUA têm a intenção de impor taxas alfandegárias de 50% sobre as importações turcas de aço e de 20% sobre as importações de alumínio como parte da sua nova estratégia protecionista. O próprio Trump reconheceu num tweet que a relação entre os dois países não é boa, penalizando ainda mais a lira.

Perante esta forte desvalorização da lira, a reação de Erdogan e dos responsáveis turcos foi culpar os mercados e os países ocidentais, acusando-os de travar uma “guerra económica contra a Turquia”. O presidente turco também designou as taxas de juro como “a mãe e o pai de todo o mal” e anunciou não ter a intenção de as subir. Apelou ainda aos turcos para comprarem liras e venderem dólares, de modo a tentar reverter a evolução recente do par cambial.

Que futuro para a crise turca?

No dia 13 de setembro, o Banco Central turco anunciou uma subida dos juros de 17,75% para 24%, surpreendendo os investidores e levando a uma subida pronunciada da lira nos mercados cambiais. No entanto, e apesar de no curto prazo esta medida acalmar os investidores, no médio/longo prazo a economia turca continua a apresentar desequilíbrios estruturais que podem conduzir a uma crise cambial e económica.