No dia em que se conhecem as principais figuras do governo regional a Madeira – entre danças de cadeiras, em que uns são claramente afastados e outros “recompensados” – não se augura, no entanto, uma nova política para a região. Nem sequer pela coligação mais sinistra que se poderia prever, mesmo que “só” a título de suporte parlamentar, mas pelo “mais do mesmo” que augura: agravamento das desigualdades sociais do risco de pobreza na região. No primeiro aspeto, e reservando outras considerações para o que for acontecendo ao longo da nova legislatura, não é compreensível que um partido com ideias ambientalistas, ecologistas, defensor da Natureza, dos animais e das pessoas , como propala, se alie e sustente um governo que faz precisamente o inverso: tem projetos para destruir reservas protegidas como a Laurissilva, para poluir ambiental e visualmente o Curral das freiras; que mata desenfreadamente animais silvestres sem equacionar as possibilidades alternativas, algumas custeadas por projetos da União Europeia (UE) para proteção de espécies animais (sobretudo de espécies protegidas e autóctones); que chumbou reiteradamente em anteriores leituras várias propostas para defesa da causa animal (no caso, apenas avançadas por iniciativa do PCP Madeira) e aprovou apenas duas que suscitaram celeuma social ao ponto de os pressionar a ceder na votação favorável. Noutras, ainda, apropriou-se da ideia- chama-se plágio político a isto, prática comum no PSD Madeira, e avançou-as como propostas do governo. E mais haveria a dizer sobre pressões e intimidações sobre deputados da oposição em contexto parlamentar, sobre trapacices e manipulações de manipulações de propostas legislativas, que certamente esta nova força política se aperceberá mais cedo do que possa na ingénua(?), inconsciente(?), ambiciosa (?) coligação a que acedeu. Custa-me a crer que Inês Sousa Real possa ser tão ingénua politicamente, até porque já tem larga experiência política, pelo que se fica a questionar que ambição a moveu (inesquecível o seu primeiro avanço para apoiar o PS de António de Costa quando ninguém- nem o próprio- acreditava na sua maioria absoluta); que contrapartidas políticas (pessoais(?) auferirá? E menciono apenas a líder nacional por ser público que o PAN Madeira não tem autonomia de escolha nem de listas eleitorais, nem de decisões para o contexto político regional, e que esta resolução de acordo e coligação PDS/CDS-PP/PAN foi decida por si (mesmo que tenha tido o apoio do concelho regional).
E não é a coligação em si que está em causa- arranjos governativos e parlamentares são do mais comum e recorrente em democracia. Mesmo aquando da coligação PSD/CDS-PP com todo o feio espetáculo que desfilou ante nós com um rol de alpinistas políticos que se “apagaram” ideologicamente, pela “gamela” do poder, a verdade é que estávamos perante duas forças de direita que, não obstante a ferocidade dos confrontos durante 43 anos de democracia, se definiam por terem muita da matriz ideológica em comum. Não é o caso do PAN, um partido jovem que oscila entre ideias de esquerda e de direita, sem sustentação de princípios e coluna ideológica, o que se demonstra por já ter ofertado “despudoradamente” tanto ao PS como ao PSD. E aqui vai ainda no seu trajeto tão curto que começou por ser tão interessante, tão enraizado filosoficamente pela expressão de um, esse, sim, ideólogo como o Paulo Borges que definiu um projeto político naturalista que parcial se destacar pela diferença, pela originalidade das causas. Não se vislumbram resquícios desse molde político…
Dito isto, gostaria, francamente, de estar enganada com estas projeções do futuro político regional. Mas ante este novo rearranjo (em que se fala em minimizar impactos ambientais em vez de os combater) não é previsível que se avizinhe a mudança – a que nos trará estabilidade política, de facto; a que debelará as gritantes desigualdades sociais na Madeira e crescente, visível a olho nu nas ruas do Funchal, pobreza, entre nós.
Ao que acresce, além do mais, o desrespeito por parte desta nova coligação por aquela que foi a vontade manifesta e expressa, dos madeirenses e portossantenses: a população não quer um governo com maioria absoluta!
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