Um caso curioso, o da insolvência da Dielmar. A empresa que conhecemos desde há praticamente 60 anos emitiu um comunicado esta semana, avisando que “talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com carácter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem e que suportam, há décadas, a fixação das pessoas e a economia e equilíbrio social da região. E que proporcionam, sobretudo, oportunidades de trabalho para as mulheres”.

E, infelizmente, acrescentando que termina assim: “O projeto de vida do nosso pai e dos seus fundadores que tanto se sacrificaram para o construírem em Alcains, na década de 60, em que o interior era ainda mais interior, onde tudo era ainda mais longe e difícil de obter, fazer chegar, mas também expedir”, numa região que enfrenta “uma nova e forte redução populacional”, como comprovado pelos recentes dados do Censos 2021.

Nestas circunstâncias, define-se bem a fronteira entre a democracia-cristã, família política à qual pertenço, e a corrente liberal, cujo discurso acaba por coincidir com o do ministro socialista. Com efeito, quando Siza Vieira afirma que “os dinheiros públicos servem para apoiar empresas, salvaguardar os ativos das empresas. Não servem para salvar empresários“, os liberais aplaudem. Não se recordam, aparentemente, é dos muitos empresários que o PS “salvou” ao longo de anos com decisões à medida. Berardo, por exemplo. Mas vários outros seriam mencionáveis.

É verdade que os resultados da fábrica têxtil de Alcains, apesar do apoio já dado pelo Estado, se mantiveram negativos. E que a administração não conseguiu o turnover esperado, para mais em contexto de pandemia, numa altura em que muitas marcas similares se viraram para as vendas online. E é indiscutível, também, que não compete aos governos regressarem à gestão das empresas. Para isso já bastam as interferências do ministro Pedro Nuno Santos e a sua visão anacronicamente marxista da economia real.

Mas aqui está igualmente em causa uma outra circunstância. A inoperância para a qual nestes artigos e no Parlamento alertei por diversas vezes, quanto à ineficácia dos apoios do Governo para colmatar os problemas de tesouraria das empresas, agravados pela Covid-19.

Como também menciona a administração da empresa, a pandemia “alterou radicalmente o negócio da Dielmar, que viu encerrar por decreto e em todo o mundo, desde 19 de março de 2020 e durante mais de um ano, todas as lojas dos seus clientes e as suas próprias lojas e, consequentemente, o seu negócio”. “Foram longos e duros 16 meses e um esforço imenso e solitário da equipa Dielmar, para conseguir fazer sobreviver a empresa nesta pandemia sanitária e económica”.

Ora, não é suposto que fábricas e empresas históricas como esta sejam deixadas sozinhas, aguardando apoios que não chegam ou lhes são negados. “Não vale a pena pôr dinheiro fresco em cima de uma empresa que não tem salvação”, afirmou o ministro Siza Vieira. Penso que, mais uma vez, a todos nós ocorrem vários exemplos em que os governos socialistas fizeram isso mesmo, em casos muito menos meritórios do que o da Dielmar.

Estou certo de que esta situação ainda está longe de concluída, e que ainda se procurará reconverter e recuperar a fábrica e a marca, salvaguardando as centenas de postos de trabalho relacionados. Caso contrário, a Dielmar será apenas a primeira de um castelo de cartas que a ninguém interessará ver ruir.

 

 

Esta semana foi notícia que ainda há 101 concelhos no país sem qualquer comparticipação do Estado para a realização de testes rápidos de antigénio gratuitos, mais de um mês depois do anúncio da medida feito pelo Governo, que prevê a realização de até quatro testes por mês a cada cidadão nas farmácias ou laboratórios aderentes. É indispensável que esta lacuna seja colmatada e o serviço possa ser prestado em todo o território.

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