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A disrupção em toda a cadeia de valor do dinheiro

O presidente da Fintech Portugal considera que a aceitação dos agentes e a infraestrutura tornam o país apetecível aos colossos da indústria.
  • 2 – Multibanco
13 Junho 2021, 16h00

Qual será o papel das fintech no futuro do dinheiro?
As fintech estão a trabalhar em todos os aspetos da cadeia de valor. Podem ser start-ups, incumbentes, bancos centrais, pode ser qualquer agente. Há as fiat (fiduciárias), que são as mais clássicas, mas que têm já a possibilidade de serem transmitidos digitalmente; há também empresas que saíram da temática das fiduciárias e criaram divisas digitais, criptomoedas, que são cada vez mais líquidas, não só pelo capital envolvido, mas também as aplicações que estão à volta delas. Acaba por ser um sistema financeiro que corre à parte, com vasos com o sistema formal. Temos também muito recentemente bancos centrais que têm feito central bank digital currencies (CBDC), tentando trazer as facilidades dos dois mundos. A China está muito avançada, o Banco Central Europeu também tem trabalhado muito a temática. Poderá haver alguns cortes na cadeia de valor e na capacidade de armazenamento, ou alterações na camada de transmissão do dinheiro. Em toda a cadeia de valor de criar e guardar dinheiro, as fintechs terão uma influência infraestrutural, mas também de transmissão, das aplicações que as pessoas estão a usar para interagir, o ponto de contacto. Não é por acaso que os bancos começaram a cobrar comissões no MBWay, é porque querem que as pessoas continuem a usar o homebanking, um ponto de contacto muito importante. As fintech também estão a atacar essa camada, do contacto final com o cliente. No fundo, há uma disrupção end-to-end.

 

Qual é o cenário atual das fintech em Portugal?
Como comprova o nosso relatório anual, aumentou o investimento, o número de empresas e o interesse internacional a nível de fusões e aquisições, com colossos mundiais a comprarem ou investirem em fintechs portuguesas. Temos uma grande capacidade tecnológica, apesar do mercado ser pequeno quando comparado com congéneres euro e asiáticos. Isso acaba por afetar a morfologia das nossas fintechs. Temos um sector sobretudo B2B, mas onde acabam por proliferar bastantes start-ups. A infraestrutura para o fintech é muito melhor do que há uns anos. Existe a associação do Portugal Fintech, temos uma maior abertura dos incumbentes, o regulador com o Portugal FinLab, incubadoras dedicadas… Tudo acaba por ser um círculo virtuoso. Há mais fintechs, mas também há mais serviços para as fazer crescer, mais credibilidade, interesse internacional de investidores e utilizadores… diria que nunca se teve tanto desenvolvimento, tanto material ou tanta matéria-prima. Havendo ainda trabalho por fazer, é um ambiente muito mais desenvolvido do que há quatro anos.

 

O que antecipa para o futuro na área?
A nível mundial, espero que esta tendência continue. A Covid veio acelerar a digitalização do mundo financeiro, com pessoas mais abertas a experimentarem soluções digitais, mais higiénicas, pelo menor contacto. Acredito que se torne algo mais embebido no nosso dia-a-dia – não faz sentido, por exemplo, ir a andar de autocarro e não poder pagar com o meu telemóvel. Isto são temáticas que, a nível mundial, não vão parar e os bancos estão a tentar acompanhar, senão já perceberam que vão perder a camada de contacto com o cliente final. Em Portugal, especificamente, acredito que haverá muito mais cooperação entre incumbentes, bancos e seguradoras, que acabam por ter ainda a maior parte do contacto. Acredito também na criação de fintechs pan-europeias ou globais a entrar em força e questionar alguns mercados até agora muito defendidos por monopólios naturais e artificiais, como nos meios de pagamento e transferências ou nos cartões de crédito e debito. Basta olhar para alguns nomes que estão a entrar em força no mercado nacional e, de alguma forma, a servir de ‘abre olhos’ para acelerar as agendas de digitalização da banca.

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