Os meus dias começam com eles. Os jornais que leio. A rádio que se liga mal entro no carro. Os meios de comunicação tradicionais, que estiveram no arranque da democracia, são também a garantia da sua continuidade. E as notícias que nos têm chegado nos últimos dias são preocupantes.

Hoje os jornalistas, amanhã poderemos ser nós e a nossa liberdade. A democracia e os direitos humanos, para não passarem a ser distopias e sucumbirem à desinformação e ao populismo, precisam de meios de comunicação social sustentáveis, com jornalistas independentes. E a fuga de metade do investimento publicitário para as plataformas digitais está a dificultar a sobrevivência de alguns meios de comunicação e a levar a alargados cortes de recursos humanos noutros.

Sabemos que longe vão os dias em que os jornais, a rádio e os canais de televisão eram as fontes incontestáveis de informação. Com a ascensão das redes sociais, a rapidez na disseminação de conteúdo superou a necessidade de verificação, criando um terreno fértil para a desinformação.

Este fenómeno, exacerbado pela natureza humana de procurar confirmação para as próprias crenças (conhecido como viés de confirmação), tem minado a confiança nos media tradicionais, cujo rigor, ponderação e menor rapidez no processo de verificação parecem, aos olhos de muitos, desactualizados.

A psicologia ajuda a explicar como e porquê as pessoas são atraídas por narrativas populistas e teorias da conspiração. Estes conteúdos, frequentemente sensacionalistas e emocionais, apelam diretamente aos medos e esperanças do indivíduo, criando uma ligação mais forte do que a oferecida por reportagens e conteúdos noticiosos convencionais, muitas vezes percebidas como tendo pouca conexão com a realidade que rodeia cada uma das pessoas. O populismo alimenta-se desta ligação, explorando a desconfiança nas instituições tradicionais e apresentando-se como a voz ‘do povo’.

Estarão os media tradicionais condenados à obsolescência? Como comunicar de forma que ressoe emocionalmente sem comprometer a integridade jornalística? Como fazer com que o modelo de negócio seja sustentável nesta era cada vez mais digital e da inteligência artificial?

Parece certo que os profissionais dos media precisam de se adaptar a esta realidade, reconhecendo a importância da agilidade na era digital, bem como fazendo das ferramentas tecnológicas aliados, mas sem ceder à tentação do sensacionalismo barato. É necessário encontrar um equilíbrio, oferecendo conteúdo verificado e confiável que ainda assim seja atraente e acessível ao público geral. A questão é como.

A série “Black Mirrow”, em vários dos seus episódios, aborda distopicamente estes fenómenos do comportamento, como em “Nosedive” (Temporada 3, Episódio 1), mostrando indirectamente como as percepções online podem ser manipuladas e distorcidas.

Mais compreensão sobre o comportamento humano, como processamos informação, sobre os nossos enviesamentos cognitivos e as nossas emoções pode ser mais um contributo para este desafio que vai fazendo muitas vítimas entre os jornalistas. Cada vítima entre os jornalistas são muitas mais no nosso exercício de cidadania.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.