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A dívida pública nacional acaba de bater novo recorde em Maio e ninguém diz nada?

Trocando por uma linguagem simples, o que o relatório do Banco de Portugal vem dizer sobre Portugal, é o equivalente hipotético de um cidadão normal, que tem dívida de crédito habitação e carro, ver o seu salário aumentar temporariamente e em vez de pagar ou reduzir as dívidas que tem, esta pessoa dedica-se a gastar o seu novo salário e ainda contrai novas dívidas.
11 Julho 2019, 07h15

Vivem-se “bons ventos” económicos em Portugal, a economia mundial e europeia estão em bom estado, Portugal é um país que neste momento “está na moda” e a ser inundado de turistas que vêm gastar os euros para os quais tanto trabalharam no nosso país, a confiança dos cidadãos mantém-se, o que faz aumentar o consumo interno, e consequentemente a criação de emprego e a geração de impostos. Ou seja, sem grande esforço consciente, as contas do Estado Português estão a ser fortemente beneficiadas pela receita fiscal oriunda especialmente do turismo e do consumo interno.

Mas não obstante, acabei de ler que no dia 1 de Julho o Banco de Portugal emitiu a “Nota de Informação Estatística – Dívida Pública – Maio de 2019”, através da qual informou que a dívida pública portuguesa, na óptica de Maastricht (a que conta para a União Europeia), atingiu 252,5 mil milhões de euros, mais 180 milhões de euros face a Abril, sendo este o valor mais alto em termos nominais pelo menos desde 2007, segundo os dados disponibilizados pelo Banco de Portugal. Em termos comparativos, a dívida pública aumentou 1.972 milhões de euros em comparação a Maio de 2018 (!!! – para termos a noção, em termos comparativos, este aumento de dívida em apenas um ano do Estado Português corresponde a cerca de metade da dívida total da Região Autónoma da Madeira), e nem a comunicação social, nem os opinion makers, nem partidos políticos disseram absolutamente nada.

Trocando por uma linguagem simples, o que o relatório do Banco de Portugal vem dizer sobre Portugal, é o equivalente hipotético de um cidadão normal, que tem dívida de crédito habitação e carro, ver o seu salário aumentar temporariamente e em vez de pagar ou reduzir as dívidas que tem, esta pessoa dedica-se a gastar o seu novo salário e ainda contrai novas dívidas. Escusado será dizer que, caso os rendimentos diminuam por qualquer motivo (como a ocorrência de uma crise), rapidamente deixará de poder pagar as suas dívidas (novas e antigas) e entrará numa situação de insolvência. O que o Banco de Portugal nos veio dizer, com uma linguagem mais complexa e técnica, é que Portugal está exactamente na mesma situação…

Fico preocupado porque constato que, basicamente, Portugal é um país que é governado como se não houvesse amanhã, com o endividamento a subir quando deveria estar a descer (pelo contrário, na Madeira a dívida total da região desceu € 1,4 mil milhões desde final de 2012 e reduziu € 86 milhões de euros só no último ano), que se encontra completamente alicerçado nos factores positivos do imediato como o consumo interno alto das famílias e o boost do turismo, mas sem se preocupar com os desafios que possam estar no futuro, e que quando inevitavelmente se encontrar em contraciclo económico, poderá deixar de conseguir fazer face aos compromissos assumidos e nos vermos, novamente, à mercê da troika e dos severos programas de reajustamento económico que custaram, e muito, a todos os portugueses, mas que, pelos vistos, os nossos governantes nacionais já não se lembram.

Tenho uma filha pequenina a quem conto a história da formiga e da cigarra de La Fontaine, procurando dar ênfase ao papel da formiga que passou o Verão a armazenar comida para o Inverno e não a cigarra que saltitou e brincou o Verão todo e quase morreu de fome e frio. Muito embora esta seja uma história de crianças, ao olhar para o relatório do Banco de Portugal, nunca me pareceu tão actual e tenho uma vontade enorme de a contar aos homens e mulheres que estão ao leme do nosso país, exactamente da mesma forma como conto à minha filha.

 

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