Este tem sido um ano claramente negativo para a economia global. Segundo as últimas projecções do FMI, em 2019 o PIB mundial vai crescer cerca de 3%, o ritmo mais baixo da última década e cerca de 0,5 pontos percentuais abaixo do crescimento registado em 2018. Foi (e ainda está a ser) um ano marcado pelas tensões comerciais entre os EUA e a China, que paulatinamente foram tomando proporções graves, que só dão sinais de serem parcialmente saradas.

As tensões comerciais, ainda que cingidas à relação sino-americana no papel, tiveram repercussões muito para além disso. Principalmente para o sector industrial de todo o mundo que assenta em árvores de fornecedores e clientes verdadeiramente globais, profundamente enraizadas nos EUA e na China. Estas raízes tiveram que ser revistas e reestruturadas perante a perspetiva de uma nova ordem de comércio internacional – que ainda não está definida – e isso levou a impasse económico que parece ter sido o principal causador do abrandamento económico global a que assistimos durante 2019.

A consequência do abrandamento do sector industrial foi particularmente visível na Alemanha (o principal músculo industrial da Europa e uma economia bastante dependente deste), que roçou uma recessão técnica no último trimestre.

Os últimos meses foram por isso de alguma ansiedade económica a nível global, com as yields do mercado obrigacionista a caírem bastante, com os bancos centrais a carregarem no acelerador dos estímulos monetários, e com alguns agentes a temerem que uma recessão nas economias desenvolvidas pudesse estar perto.

Este stress é desagradável, mas tal como é nos momentos de stress/desafio que melhor se analisam as capacidades de um indivíduo, também é nestes momentos que melhor se observa a robustez de uma economia. Como diz o famoso Warren Buffett, é quando a maré vaza que vemos quem está a nadar nu. E esta maré baixa não revelou nada de íntimo da economia global…

Por feio que tenha sido o abrandamento no sector industrial, a verdade é que não se alastrou demasiado para além deste sector. A robustez da economia global foi particularmente visível nos indicadores laborais e nos mercados de crédito, tanto dos EUA como da Europa. Os níveis de emprego mantiveram-se saudáveis, o ritmo de crescimento dos salários continuou a acelerar (ainda que muito lentamente), a concessão de crédito manteve-se estável e os spreads de crédito no mercado obrigacionista subiram relativamente pouco.

É verdade que os respetivos bancos centrais foram especialmente ágeis e determinados a reagir ao abrandamento económico, mas é cada vez mais consensual que, depois de tantos estímulos monetários ao longo da última década, mais estímulos monetários terão pouco impacto real. Especialmente na Zona Euro, onde uma evidência disso é que as taxas de juro no mercado obrigacionista só subiram na desde que as novas medidas de estímulo foram anunciadas.

Resumindo, perante os riscos sistémicos que a divergência económica (e não só económica) entre os EUA e a China fizeram emergir, as economias desenvolvidas revelaram surpreendente resiliência.

Isto não quer necessariamente dizer que existe muito potencial de aceleramento do crescimento económico nos próximos anos, quer dizer sim que por baixo que seja o atual ritmo de crescimento económico global, ele parece ser bastante sólido. A economia global pode estar a nadar com pouca roupa, mas pelo menos essa roupa está bem abotoada.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.