A noite começou com uma boa notícia para a democracia: uma maior participação. Ganhou a democracia. E acaba a noite numa encruzilhada, na dúvida se serão precisos os círculos da Europa e Fora da Europa para ficar tudo fechado.

A missão do próximo Governo é enorme. É necessário ter sentido de urgência, mas saber que as intervenções têm de ser profundas, estáveis e duradouras. Conciliar o curto e o longo prazo vão ser chave para o sucesso e para se se quiser, de facto, ser agente de mudança.

Há diversas frentes de fogo:

  1. Nas ruas, com diversas conflitualidades. Agricultores, forças de segurança, profissionais na área de educação, saúde. Só para abrir as hostilidades e por ordem alfabética. As greves também têm sido muitas, por exemplo, afetando os transportes e a justiça. Se, por um lado, o bom senso diria que deveria haver agora tempo para conversações, por outro, convenhamos que o bom senso e as pontes é algo que tem faltado.
  2. Interno: Administração Pública e Sector Empresarial do Estado (SEE). Uma administração pública sedenta de credibilização, e os cidadãos sedentos de funcionamento. A par do PRR e de outros fundos, que são pesadelos burocráticos e cujos graus de não execução têm grandes impactos. Decisões fundamentais como o aeroporto e as infraestruturas de água, a par do dossiê TAP. A AIMA é também fundamental, não apenas pelo atentado aos direitos humanos, mas também pelo recente foco no tema da imigração.
  3. Externo: empresas e cidadãos. A expectativa de um alívio de impostos entra logo como tema. Será essencial restabelecer a confiança dos investidores, internos e externos. Habitação e alojamento local, o que vai ser feito em relação aos RNH, são dossiês com expectativa imediata.

E nem realcei os temas de política externa e os da constituição do próprio Governo, que seriam mais frentes possíveis.

A par destas frentes, um desafio em paralelo: preparar de forma sustentada reformas, que sejam percecionadas pelas pessoas como valor acrescentado. Este último ponto é essencial, não só porque a política é feita para as pessoas, mas porque só assim as reformas serão duradouras. Os níveis de investimento para os próximos anos e a confiança de particulares e empresas são absolutamente fundamentais.

A tarefa não é fácil. Seria importante que houvesse maturidade democrática. Os próprios partidos que o quiserem contrariar sabem que deverão ser punidos a seguir, pelo que o risco deverá ser mitigado. Mas que a governabilidade enfrenta desafios, não há qualquer dúvida. E com ele o desafio de comunicação e compreensão das pessoas.

Para a vida do próximo Governo, para além dos desafios acima, a decisão do retificativo, ou não retificativo, será fundamental. Talvez as eleições europeias possam dar um fôlego de desatenção nos diversos partidos ao “tiro ao alvo” ao novo Governo. Entre rescaldo de eleições, eleições europeias, pode haver um tempo para acelerar.

Os primeiros 100 dias serão fundamentais para agarrar o país e estabelecer os equilíbrios de que precisamos: entre a conflitualidade e governabilidade, entre o curto e o longo prazo e entre lidar com a conjuntura, sem esquecer as necessidades estruturais.