De um dia para o outro, aprendemos a viver de um modo antes considerado inaceitável devido ao distanciamento e à frieza exigida pelos protocolos de higiene e segurança, espelhados em múltiplos planos de contingência, feitos à medida de quem implementa e de quem se pretende proteger. Esta Escola de hoje não é a Escola com que crescemos. Esta nova Escola é mecanizada, sem toques físicos, sem abraços espontâneos, sem diálogos no corredor ou troca de ideias com outras turmas ao almoço. Só se convive com turma a que pertencemos, só se almoça e lancha com os mesmos colegas de mesa, todos os dias de todos os meses.
Os pais já não entram na escola, não transmitem um recado verbal pela manhã nem trocam ideias e preocupações ao fim do dia com aquelas pessoas importantes a quem confiam os filhos, agora e cada vez mais, de olhos fechados. Com sorte, o telemóvel indicará uma notificação e que contentes ficamos quando se trata de um recado da escola, pelo Whatsapp, por mais simples que seja. A Escola está lá e nós estamos cá. E entre ambos há um “leva e traz” de emoções mal trabalhadas, em corações tão jovens e pouco experientes.
Porém, de uma forma avassaladora, são estas crianças e jovens que nos ensinam que a pandemia veio para ficar e não vai embora tão cedo, apesar dos baixos números de contágios comunicados diariamente. São eles que facilmente se adaptaram ao uso da máscara de proteção, da desinfeção das mãos e de todo um conjunto de rotinas de higiene rigorosa que seguem e exigem a quem os rodeia.
Nas Escolas também se estipulou o recolher obrigatório: reforçou-se a pontualidade, restringiu-se a circulação entre salas de aulas e outros espaços que antes eram de todos, guardaram-se materiais de trabalho e de lazer, difíceis de desinfetar, proibiu-se os empréstimos gerais e particulares de materiais de uso diário. Que confusão na cabeça de uma criança que já não pode emprestar uma borracha a um amigo!
Todavia, ao contrário do que se possa pensar, são estas gerações mais novas que continuam a rir à gargalhada nos intervalos, mesmo restringidos ao seu “quadrado”, a criar dinâmicas de grupo, a cantar, a correr e a saltar como lhes é natural. Na sua sombra, estão dedicados técnicos da ação educativa que os orientam nos trajetos seguros de um roteiro interno do edifício escolar, que são os primeiros a desinfetar qualquer possível foco de contaminação, em tarefas rotineiras e de exigência física mais acentuada do que no passado.
Pelo seu lado, os docentes viraram nómadas no seu local de trabalho, saltitando de sala em sala, carregados de materiais e ideias, tendo sempre presente os recursos que há em cada espaço, com a certeza de que o que é possível fazer numa determinada sala, com determinados expedientes, não se aplicará à sala seguinte. Cada vez usaremos a expressão “no meu tempo é que era!” já não pelas carências de um Estado que pouco apostava na Educação, mas por saudosismo de uma série de vivências que tememos que os nossos filhos não experienciem.
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