Segundo o Bank of America, em 2020 as famílias europeias gastaram em média 1.200 euros em eletricidade e gás. Este ano, a previsão é que esse valor suba para 1.850 euros, à medida que as tensões geopolíticas e a falta de investimento na cadeia de produção de combustíveis fósseis vai fazendo subir preços que as renováveis não conseguem conter.

Normalmente, o consumo em energia representa pouco mais de 6% do consumo privado na zona euro, mas poderá chegar aos 10%, de acordo com estimativas do banco ING, reduzindo o rendimento disponível que poderá também ser afetado pelo término de várias políticas de subsídios.

Este é um dos aspetos que poderá colocar em causa a recuperação económica este ano. Era suposto que o fim da pandemia – com o qual praticamente todos os analistas já estão a contar – e das inúmeras restrições significasse um crescimento histórico do consumo.

No entanto, contas de eletricidade que estão a chegar ao triplo das do ano passado em alguns pontos da Europa e uma subida aparentemente sem fim à vista nos preços dos combustíveis colocam em causa estas previsões.

Para Itália, a consultora Nomisma prevê que a energia irá retirar 2,9% ao consumo privado e 1,1 pontos percentuais (p.p.) ao PIB. Para Espanha, o BBVA prevê uma redução de 1,4 p.p. pelo mesmo motivo, que também impedirá o consumo dos alemães de não atingir níveis pré-pandémicos neste trimestre.

É também devido a este contexto que vejo com dificuldade justificarem-se eventuais subidas de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) – e de outros bancos centrais – com base na escalada da inflação. A atual evolução dos preços tem como génese constrangimentos ao nível da oferta e subir juros irá atuar sobretudo pela via da procura.

Subir juros nesta fase poderá apenas induzir uma desaceleração económica que não só não irá resolver o problema da inflação como arrisca criar um problema social e político, até porque o fenómeno é assimétrico na zona euro. O BCE parece estar mesmo preso numa camisa de forças.