A ética na empresa pode ser pensada a partir da ação na sua fundamentação vital, a ação que anima tudo o que vive e não apenas a ação centrada no humano. É por isso que a ética não pode ficar aprisionada no antropocentrismo, mas deve encontrar a sua raiz na ontologia, no comum do ser, na vinculação primordial entre todos os seres.

A ação é a nossa experiência primeira do real, o modo pelo qual nos aproximamos uns dos outros e por meio disso somos e conhecemos. Nesse sentido o que é determinante na ação não é o mental, o intelecto, mas a vontade, porque é a vontade que exprime o nosso querer no sentido de nos aproximar ou de nos afastar desse mesmo real.

Na vida da empresa essa ação poder ser muito positiva, traduzindo-se numa cooperação entre os seus membros, ativa e viva, para além do funcional e instrumental. Enraizar a ética na ontologia não só a descentra do humano, como nos possibilita desenvolver uma experiência da generosidade existencial que antecede a norma e a regra e se concretiza numa abertura e acolhimento ao outro, que não é norteada pela função que cada um desempenha, mas por aquilo que cada um é, tendo em conta o seu valor intrínseco.

A ética na empresa tem de partir do seu interior, de uma vontade(s) que não se deixa apenas nortear pelo lucro, mas é capaz de criar verdadeiras comunidades vivas. Só assim, poderá ser transformadora, concretizando-se num processo fundamentalmente incarnado, intersubjetivo e cooperativo. Assim, poderá desenvolver uma subjetividade própria coletiva, diferente dos indivíduos que nela trabalham, e plasmada na sua missão e objetivos.

Ao falarmos da generosidade incarnada, não podemos esquecer a violência que tantas vezes é exercida em relação àqueles que trabalham na empresa mediante a coerção, a disciplina e o controlo. Apesar desta reserva, reconhecemos que sempre existiram e existem, vestígios desta generosidade, como uma dimensão integral do processo cooperativo e interativo da vida da e na empresa.

A vida da empresa não se esgota, nem se restringe às relações contractuais, muito menos à relação unicamente bilateral e tantas vezes privilegiada entre gestor e acionista. Na sua organização, na definição de objetivos, na implementação de estratégias, a dádiva e a partilha de conhecimentos e de conceções propícia uma dimensão integral da racionalidade cooperativa, bem diferente da racionalidade da utilidade e que se revela num dos aspetos mais positivos da sua vida comunitária.

A forma como algumas empresas se organizam, partilham conhecimento e inovam, abre a possibilidade a uma generosidade incarnada, onde as relações são menos hierarquizadas e mais horizontais, e onde a gestão é mais partilhada e descentralizada.

Uma gestão com estas características permite mais liberdade e solidez e assenta num sistema radicular que pode ser construído de forma modular, replicável e sem nenhum centro fundamental. Só assim, é possível abrir novos caminhos e novas possibilidades para o futuro.