A Informa D&B concluiu, com base na análise de um painel de controlo da crise, que 26% das empresas portuguesas (uma em cada quatro) não têm capacidade financeira para resistir à atual contração económica. Os números agravam-se, como é natural, em função da dimensão, estimando-se que uma em cada três microempresas (34,2%) não disponha de recursos financeiros para suportar a crise. E com o fim dos apoios à atividade económica (linhas de crédito, moratórias, regime excecional de arrendamento, etc.), a situação pode ainda tornar-se mais dramática.
As economias locais dependem fortemente da criação de valor e emprego pelos pequenos negócios, serviços de proximidade, microempresas e startups que compõem, maioritariamente, os seus ecossistemas empresariais. Por isso, a atual crise pode vir a gerar impactos muito significativos no tecido económico e social dos municípios portugueses. Se as insolvências dispararem, um conjunto de problemas socioeconómicos se perfila no horizonte dos municípios, desde o desemprego e endividamento das famílias ao despovoamento dos centros urbanos.
De resto, os municípios têm um papel fundamental na competitividade económica do país e a sua afirmação, à escala nacional mas também global, depende muito do dinamismo do respetivo tecido empresarial. Neste pressuposto, os municípios necessitam de atrair investimento, favorecer a iniciativa privada, reter e captar talento e produzir conhecimento, inovação e tecnologia. Caso contrário, perdem inevitavelmente massa crítica, notoriedade e atratividade, para além de prejudicarem a qualidade de vida das suas populações.
Tudo isto para dizer que os municípios portugueses têm importantes responsabilidades quer na recuperação económica do país, quer na sua transformação estrutural no pós-pandemia. A dinâmica económica local é essencial para a retoma das atividades económicas e relançamento do investimento, bem como para a transição de Portugal para um modelo de desenvolvimento mais digital, sustentável e competitivo. Ora, isto exige dos municípios, não só apoios e incentivos que permitam às empresas sair da crise, como a criação de condições (fiscais, infraestruturais, tecnológicas, formativas, etc.) que capacitem os seus ecossistemas empresariais.
Neste sentido, é importante que as eleições autárquicas que se avizinham sirvam para debater estratégias de desenvolvimento local, tendo como pano de fundo a crise pandémica e as transformações que o país necessita. Os candidatos autárquicos devem ter consciência da importância dos municípios e regiões na boa aplicação da nova geração de fundos europeus, dos quais muito dependem a resiliência e modernização do nosso tecido empresarial.
Questões como a transição digital e climática, a reindustrialização, os consórcios empresas/academia, a inovação ou a formação e valorização profissional vão passar, em boa medida, pela articulação entre o poder local e os seus ecossistemas empresariais.
Portugal tem hoje uma nova geração de autarcas com sentido de missão, visão estratégica e sensibilidade para as grandes tendências socioeconómicas (inovação, sustentabilidade, empreendedorismo, inclusão social, coesão territorial, etc.). Era bom que essa geração saísse reforçada nas próximas eleições autárquicas, para que as empresas e as associações empresariais encontrem cada vez mais nos municípios os seus parceiros de referência.