Esta semana, a tomada de posse do presidente dos Estados Unidos para o novo mandato deixou claro o peso que os grandes empresários e as suas redes de influência exercem na política e nos media.
Donald Trump construiu grande parte do seu percurso político apoiando-se em figuras do mundo empresarial que, além de deterem gigantes económicos, também controlam meios de comunicação e as redes sociais. Este cenário levanta questões cruciais sobre a relação entre poder político, económico e mediático, especialmente num momento em que a desinformação continua a ameaçar a democracia.
Elon Musk, um dos empresários mais influentes da atualidade e proprietário da rede social X (antigo Twitter), é um exemplo paradigmático. Desde que adquiriu a plataforma, Musk tem promovido a ideia de liberdade de expressão irrestrita, mas as consequências têm sido controversas. Com a diminuição das políticas de moderação de conteúdos, a X tornou-se num espaço fértil para a propagação de fake news, teorias da conspiração e discursos polarizadores. Musk, frequentemente associado a Trump, já demonstrou estar disposto a usar a sua posição para influenciar debates políticos e moldar narrativas públicas.
Outro nome de destaque é Jeff Bezos, dono da Amazon e do jornal “The Washington Post”. Embora o jornal mantenha um histórico de reportagens de qualidade, a concentração de poder mediático nas mãos de Bezos levanta preocupações sobre possíveis conflitos de interesses entre a cobertura jornalística e os seus interesses económicos. Além disso, outros empresários próximos do círculo de Trump, como Peter Thiel, continuam a investir em meios de comunicação e plataformas digitais, amplificando vozes conservadoras alinhadas com a sua visão política.
A concentração de poder nos meios de comunicação tem profundas implicações na forma como o público consome informação. Estudos indicam que as fake news, muitas vezes sensacionalistas, conseguem captar a atenção de forma mais eficaz do que notícias verdadeiras. O sensacionalismo, aliado aos algoritmos das redes sociais, faz com que estas notícias se disseminem de forma exponencial.
Um estudo do MIT demonstrou que as notícias falsas circulam até seis vezes mais rápido do que as verdadeiras. Esta dinâmica é alimentada por manchetes emocionais e sound bites, que permanecem na memória coletiva mesmo após serem desmentidos. Num contexto como o das eleições norte-americanas, estas distorções informativas podem alterar perceções e influenciar decisões de forma alarmante.
Para mitigar os efeitos da desinformação, é necessário adotar uma abordagem multifacetada. Em primeiro lugar, é importante reforçar a literacia mediática da população para que sejam capazes de identificar fontes confiáveis, questionar as informações que consomem e verificar factos. Ao mesmo tempo, as empresas tecnológicas necessitam assumir responsabilidades mais claras. Contudo, estas iniciativas só terão sucesso se forem acompanhadas por regulamentações que estabeleçam normas éticas claras para o funcionamento destas plataformas.
Um outro elemento indispensável é o fortalecimento do jornalismo independente.
Neste momento crítico, em que os interesses políticos, económicos e mediáticos se interligam de forma tão evidente, a luta contra a desinformação é mais relevante do que nunca. A verdade não só é essencial para garantir a integridade das democracias, mas também para permitir que os cidadãos tomem decisões informadas e responsáveis. É importante garantir que a transparência e a ética prevalecem sobre a manipulação. Afinal, sem uma informação livre e fiável, não há democracia que resista.