A instalação, em Oeiras, de um centro de operações da Google e a eventual criação de uma plataforma logística da Amazon no Porto, parecem indicar que Portugal está na rota das grandes empresas tecnológicas. Isto significa que o nosso país, para além de todos os outros fatores de atratividade (bem-estar, segurança, paz social, clima, infraestruturas, custo de vida…), oferece à indústria high tech talento em áreas tecnologicamente sofisticadas. Mas este talento é insuficiente se Portugal quiser ser um hub tecnológico global, e não apenas um país TIC friendly.

A propósito do investimento da Google, o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, afirmou que “reter talento é tão crucial como reter capital”. Sendo a premissa verdadeira, Portugal tem de pensar uma estratégia para criar, atrair e fixar potencial humano com interesse para investidores globais dos setores de valor acrescentado. Isto tendo em conta que o país é pouco populoso, está envelhecido e tem défices de qualificação.

A criação de talento depende, naturalmente, do ensino superior. Ora, como já referi neste espaço, as nossas universidades deram um grande salto qualitativo mas ainda se verifica um certo desfasamento dos planos curriculares em relação às necessidades do tecido socioeconómico, sobretudo considerando os desafios da economia do conhecimento. Por outro lado, o abandono escolar precoce faz com que o nível de escolarização superior da população portuguesa continue a ser inferior à média europeia. Donde, é fundamental um investimento mais forte do país no sistema de educação.

As instituições do ensino superior são também cruciais para atrair e fixar talento global. O número de estudantes estrangeiros cresceu bastante nas nossas universidades, podendo este potencial humano vir a ser incorporado no tecido económico. Maximizar e simultaneamente reter este talento global parece-me essencial à competitividade do país, considerando os nossos baixos níveis de escolarização superior e a diminuição da nossa população jovem. Importa, pois, garantir que as universidades têm capacidade para receber mais estudantes estrangeiros e para integrá-los nos seus projetos de I&D+i.

A necessidade de reter talento também se coloca em relação ao capital humano português. Os jovens ganham competências com experiências profissionais no estrangeiro, mas é crucial evitar uma fuga de cérebros e promover o regresso dos que partiram. Para tanto, há que concentrar esforços na criação de boas oportunidades profissionais para os jovens. Como muitas das nossas empresas não podem pagar os salários praticados lá fora, a fixação de talento deve fazer-se a dois níveis: atraindo investimento estrangeiro como o da Google e melhorando o ambiente de negócios, para que mais jovens desenvolvam projetos de empreendedorismo.