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A insustentável leveza dos salários em Portugal

Portugal tem um problema de salários. Ainda assim, o jovem com formação ganha mais do que o jovem que não a tem. E quanto mais técnica e especializada for a profissão, mais sólido é o vínculo laboral.
10 Junho 2022, 18h00

O salário é um indicador a ter em conta na escolha da área de formação de quem vai agora para o ensino superior. Quanto ganha um jovem recém-licenciado? Os dados são pré-pandemia, mas retratam uma realidade que, no geral, não terá sofrido grandes alterações.

Dados da plataforma Brighter Future, da Fundação José Neves, revelam que, em 2018, o salário médio dos trabalhadores dos 15 aos 24 anos com licenciatura era de mil euros. A média esconde, no entanto, “diferenças substanciais” entre as várias área de formação. Matemática e Estatística está no topo da lista das remunerações, com um salário médio de 1.245 euros brutos; seguida das áreas da Saúde, Informática, Engenharia e Técnicos afins e Serviços de Transporte. Já os jovens licenciados em Ciências Veterinárias, Serviços Sociais, Serviços de Segurança e Arquitectura e Construção recebiam os salários médios mais baixos, não atingindo 850 euros.

No conjunto das áreas de formação do ensino superior consideradas, o destaque pela positiva vai para as científico-tecnológicas – Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática e Saúde.

O vínculo laboral acompanha a fragilidade do salário. Os contratos de emprego a prazo são uma realidade para uma parte substancial de quem trabalha. Segundo a Brighter Future, em 2018 cerca de 36% dos trabalhadores nas empresas portuguesas tinham contrato não permanente.

Ainda assim, os jovens com o ensino superior completo são menos afetados por esta realidade do que os mais jovens sem estes estudos. “O objetivo primeiro deste tipo de contratos é a criação de emprego, pois deveriam servir como uma porta de entrada na empresa e conduzir posteriormente a um emprego estável. No entanto, a considerável prevalência de contratos não permanentes entre as faixas etárias mais elevadas sugere que este tipo de contrato se prolonga pela carreira de muitos profissionais”, refere o analista.

A realidade, ao contrário do que muitas vezes se diz, parece atingir os dois lados da barricada — trabalhadores e empresas. Com consequências. “A rotação de emprego e a incerteza associada diminui ainda os incentivos ao desenvolvimento do capital humano por parte dos trabalhadores, mas também por parte das empresas, potencialmente comprometendo a sua produtividade e crescimento”, escreve a Brighter Future.

Os dados estatísticos da Brighter the Future revelam igualmente que “a incidência de contratos não permanentes tende a ser superior entre os trabalhadores com um menor nível de escolaridade”.

O problema não é exclusivo de Portugal, mas é Portugal que é para aqui chamado. “Esse diferencial entre trabalhadores com e sem qualificações do ensino superior já se verificava em 2010, mas era de apenas três pontos percentuais”. Está a aumentar e de forma mais pronunciada para o grupo dos trabalhadores sem o ensino superior. Assim, em 2018, 29% dos trabalhadores com ensino superior tinham um contrato não permanente, sendo o valor para os trabalhadores menos qualificados de 40%.

A Brighter Future disponibiliza, para cada profissão, a distribuição dos diferentes tipos de contrato. Quando mais técnica e especializada a profissão, maior o vínculo. Maquinistas, controladores de tráfego aéreo, engenheiros de telecomunicações, matemáticos e atuários garantem quase na generalidade o contrato permanente. Ao contrário, entre os atletas, empregados dos centros de chamadas, diretor e gerente de restauração, apenas menos de 25% de trabalhadores tem este tipo de vínculo com a empresa.

Atleta e desportista de competição é mesmo a profissão que apresenta, simultaneamente, a menor percentagem de contratos permanentes e o maior salário médio entre as profissões analisadas.

O relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal”, estudo anual da Fundação José Neves destaca o facto de os jovens terem ganhos salariais superiores à generalidade da população nos cursos de pós-secundário e nos mestrados. Em 2018, havia um ganho salarial de 10,5% em concluir um curso pós-secundário não superior. No mesmo ano, os mestrados tinham um ganho salarial de 19,6% face às licenciaturas. O ensino pós-secundário não superior é o ensino de componente mais técnica, sendo organizado em Cursos de Especialização Tecnológica (CET) e ministrado por estabelecimentos de ensino secundário, centros de formação profissional, escolas tecnológicas e outras instituições de formação.

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